Sérgio Macedo, desde muito cedo, pisou firme na literatura, e da poesia ele tem auscultado as suas melodias. Sabe, muito bem, onde dormem os cães, e sabe, muito mais, que os cães uivam para a lua, e que os poetas escrevem, não para manter viva a esperança, mas para atravessar a vida carregando o peso das palavras.
Onde Estão as Margens do Meu Rio? (Fortaleza: Expressão Gráfica, 2018) é o nome do seu novo livro, para o qual pede-me o autor a apresentação. Não sei, sinceramente, o que poderia dizer acerca da sua arte literária, após os elogios de Francisco Carvalho e Artur Eduardo Benevides. Especialmente, no domínio da expressão poemática e no sentido do convívio com a morte e o abismo, trata-se de um grande poeta.
Na sua engenharia poética, Sérgio Macedo sabe manejar, como poucos, o sal da escritura. Li os seus livros Norte Magnético (1998), Mercador de Sonhos (2002) e Onde Dormem os Cães? (2010) e neles descobri a pulsação de um poeta maior, senhor da sua cosmovisão e do domínio da linguagem que a sua palavra reinventa.
Segundo Francisco Carvalho, “A poesia de Sérgio Macedo é uma poesia de afirmação, de cumplicidade com as aflições do mundo contemporâneo, de explícita rebeldia em face do esmagamento do homem pelas estruturas políticas e sociais”, pois se trata de um autêntico poeta.
A poesia de Sérgio Macedo, para Francisco Carvalho, “É a poesia de quem sabe que a vida é apenas um sonho consentido aos vassalos da morte, que somos todos nós neste planeta de deuses precários e de reis que perderam o trono e a memória”.
Artur Eduardo Benevides afirmou, certa feita, que Sérgio Macedo é um “verdadeiro poeta, que tem ampla percepção das cousas”, que os seus poemas são “quase todos excelentes” e que “um longo caminho o aguarda na poesia do Ceará”, pois “talento não lhe falta para tanto, nem visão cultural penetrante”.
O norte magnético deste grande poeta é constituído pela rebeldia e pela poética da dor e do espanto. Todos os instintos, uivos e clamores do corpo e da palavra, pulsam nos poemas reunidos no seu novo livro. Mas, no seu conjunto, a sua poesia parece toda ela escrita com o sangue, tornando-se o autor um arquiteto das formas com as quais reinventa as suas criações.
O contexto da sua semântica literária, especialmente aquele que se entremostra neste livro, é povoado de signos e de símbolos literários, entre os quais, verbo e existência se abraçam, aí revelando-se a face sombria de um poeta que tem a consciência do seu tempo e que sabe a alquimia das imagens com as quais a palavra o interroga.
O inegável poder da sua inspiração, a técnica de composição dos seus poemas, a dicção com que ele enfrenta as suas obsessões literárias e o daímôn que tortura a sua agonia de artista, são elementos que fazem do autor desse livro um poeta de estatura maior.
E com isso ganha o Ceará na sua modernidade lírica, pois a poesia de Sérgio Macedo, por ser qualitativa e permeada de grande ressonância ética, soma-se, com justiça, àquilo que de melhor foi produzido por sua geração. Almejo, pois, que a sua arte venha a alcançar o lugar que merece e que lhe é reservado no campo da poesia.