O quadro de medalhas das Olimpíadas, no seu sexto dia pela manhã, já revela muito do que é o mundo hoje. A soma das medalhas de ouro de países como a China, França, Japão, Austrália e Estados Unidos é maior do que a soma dos ouros dos outros países. E a soma total de medalhas dos mesmos cinco supera todas as medalhas do restante.
Em linhas gerais, o que isso significa? Que não é só o poder militar ou econômico que indica os índices de desenvolvimento dos países, mas fundamentalmente o investimento em Educação, Saúde, Esporte, Ciência etc. E qual a posição do Brasil agora? Vigésimo nono. Pensando na dimensão continental do nosso país, só quatro países que estão à nossa frente têm dimensões semelhantes, os outros vinte e cinco países são todos de dimensão muito menor e alguns deles até com o tamanho de Sergipe, nosso menor estado.
Quando nos orgulhamos do terceiro lugar na ginástica olímpica, devemos agradecer aos investimentos no esporte ou ao esforço individual de atletas e técnicos?
Esses abnegados atletas que conquistam medalhas para o Brasil têm a maior parte da vida dedicada ao esporte. Muitos treinam até a exaustão, sacrificando o lazer e, às vezes, o estudo. Alguns só passam a ter uma vida social depois de se aposentarem do esporte porque ultrapassarem a barreira da idade para competirem. Quais destes atletas serão absorvidos por programas de incentivo ao esporte ou pelo mercado de trabalho incerto para quem não é medalhista?
Com poucos recursos nossos medalhistas dão lições de capacidades, mas ao mesmo tempo revelam um quadro preocupante de falta de investimentos no esporte como solução para dar cidadania a milhares de jovens que têm no esporte uma válvula de escape diante das desigualdades sociais , da violência e da política de exclusão praticada pela maioria da nossa classe política.
Olhando para o quadro de medalhas fico preocupado com a festa que farão para os nossos poucos medalhistas.E triste com a continuidade da pobreza, da miséria e da desumanidade da elite econômica e política do país que ignora a miséria e nem percebe que ela, algum dia, poderá ser vitimada por um miserável em desespero por comida ou por absoluta falta de esperança em ser visto como humano.