A NECESSÁRIA CONTINUIDADE DAS REFORMAS

É consenso que nenhum funcionário público, em qualquer dos níveis da administração, pode ser responsabilizado pela inação de pregressos gestores indicados e colocados em postos de comando de empresas públicas, empresas de economia mista ou em cargos da administração direta, por indicação política ou por mérito,  ao não oferecer preparo técnico aos subordinados para as mudanças que a automação e a inteligência artificial promovem no mercado de trabalho.

Evidente que qualquer reforma, a exemplo da administrativa, não poderá alcançar para prejudicar os atuais servidores. Qualquer mudança deverá ser direcionada àqueles que ingressarem após as aprovações propostas no Congresso Nacional e sancionadas pelo Presidente. Inadmissível seria perpetuar processos anacrônicos de execução do serviço público e em sacrifício de futuras gerações que desejam melhor aproveitamento dos impostos cobrados.

O escritor israelense Yuval Noah Harari destaca em seu livro “Sapiens” a tendência de obsoletismo do trabalho, em decorrência do avanço de tecnologias que põem em prática o que oferece de melhor a inteligência artificial. O economista José Pastore (professor da Universidade de São Paulo) nos advertia para o que se chamava desemprego estrutural: Mais investimentos, em processos de modernização  e tecnologias,  mais empregados serão deslocados na empresa.

A advertência agora vem para a década de 2020, com a introdução de equipamentos que reproduzem o mesmo potencial de raciocínio dos servidores (seres humanos). A GARTNER, empresa de consultoria, sediada nos Estados Unidos, faz uma previsão assustadora: Profissões se tornarão obsoletas e com queda nos empregos relacionados a ocupações nos escritórios e fábricas, com previsão de extinção de 1,8 milhões empregos e mais treinamentos serão exigidos.

Aqui no Brasil, tenta-se criar a ideia de que a crise é responsável pela queda nos números das riquezas pessoais, que já foi ascendente e agora é descendente. O professor Pastore da USP assevera que se trata de uma transição global e explica que, até nos EUA, um país de índices de desemprego muito baixos e com elevada geração de novos postos de trabalho, a qualidade do emprego, além de baixa, vem piorando à cada ano: Nós precisamos colocar as barbas de molho!

Além da tecnologia que promoveu mudanças no mundo do trabalho, verificou-se que a perda de postos de trabalho decorreu da migração da fabricação de bens e produtos (principalmente os duráveis) para outros mercados (países) dotados de grandes contingentes de mão-de-obra mesmo não qualificada, e, acrescente-se à tudo isso uma legislação trabalhista menos onerosa ou quase inexistente. Muitas nações se transformam no que se chamou: “Fábricas do mundo”.

Os estudos mostram que há uma mudança no mercado de trabalho e isso é caminho sem volta, também no setor público. Os pagadores de impostos reclamam da inexistência de uma contraprestação do valor cobrado pelo governo e os serviços prestados. É exigido um melhor aproveitamento da arrecadação, totalmente comprometida com salários. Para atender aos reclamos da sociedade é preciso reformar o Estado. A reforma prevista agora é a administrativa.

Governos, empresas e povo em geral precisam se preparar para garantir espaço na sociedade do futuro. A questão que colocamos é essa: Empurrar o problema com a barriga é aumentar o tamanho do problema. Há duas décadas que os estudiosos advertem para a necessidade de que sejam implementados aperfeiçoamentos na gestão pública e as propostas esbarram na própria legislação trabalhista, que, também, já vem sendo reformada e o nome é Reforma Trabalhista.

Não resta ao nosso povo qualquer alternativa diferente da continuidade das reformas que começaram no governo de FHC em 1994 e que continuaram nos governos que o sucederam.

 

Haroldo Araujo

Funcionário público aposentado.

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