A identificação é também um fator poderoso na estratificação

“Permita-me comentar que a identificação é também um fator poderoso na estratificação, uma de suas dimensões mais divisivas e fortemente diferenciadoras. Num dos pólos da hierarquia global emergente estão aqueles que constituem e desarticulam as suas identidades mais ou menos à própria vontade, escolhendo-as no leque de ofertas extraordinariamente amplo, de abrangência pla­netária. No outro pólo se abarrotam aqueles que tiveram negado o acesso à escolha da identidade, que não têm direito de manifestar as suas preferências e que no final se vêem oprimidos por identida­des aplicadas e impostas por outros — identidades de que eles pró­prios se ressentem, mas não têm permissão de abandonar nem das quais conseguem se livrar. Identidades que estereotipam, humi­lham, desumanizam, estigmatizam…

A maioria de nós paira desconfortavelmente entre esses dois pólos, sem jamais ter certeza do tempo de duração de nossa liber­dade de escolher o que desejamos e rejeitar o que nos desagrada, ou se seremos capazes de manter a posição de que atualmente desfrutamos pelo tempo que julgarmos satisfatório e desejável. Na maior parte do tempo, o prazer de selecionar uma identidade estimulante é corrompido pelo medo. Afinal, sabemos que, se os nossos esforços fracassarem por escassez de recursos ou falta de determinação, uma outra identidade, intrusa e indesejada, pode ser cravada sobre aquela que nós mesmos escolhemos e construí­mos.

Max Frisch, escrevendo na Suíça – país onde as escolhas indi­viduais (flexíveis) são costumeiramente consideradas (e tratadas) como inválidas, a menos que tenham o carimbo da aprovação po­pular (inflexível) -, definiu a identidade como a rejeição daquilo que os outros desejam que você seja.”

(Trecho do livro Identidade de Zygmunt Bauman; ZAHAR; 2005)

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