A DESCONSTRUÇÃO CULTURAL COMO NOVA ESTRATÉGIA DE COLONIZAÇÃO IDEOLÓGICA

Mao-TséTung reabriu a questão da redução da economia política a um eminente problema cultural. Acertou na mosca.

Tito e Ho-chi-min erigiram o comunismo como máquina de governo fora da URSS. Depois, foram os irmãos Castro… E as variantes peronistas e chavistas remanescentes. No Brasil, brotou do trabalhismo e do enfraquecimento das velhas e poderosas oligarquias — o Petismo, uma espécie de populismo proletário genérico…

Mas foram Gramsci e Negri, para os lados da Itália, por onde nasceram Mussolini e Togliatti, que surgiu a ideia “Revolução Cultural”, produto de exportação que se espalhou pelo Terceiro Mundo.

A América Latina, terreno sáfaro para experimentos do gênero, logo associaria a Igreja às esquerdas letradas e ao despreparo político da mídia e dis agentes públicos para a construção da “pedagogia da libertação”. Para este novo artefato ideológico não faltariam os refluxos tardios das leituras da Escola de Frankfurt. O Fórum de São Paulo está a completar a obra de aproximação tática dos novos revolucionários e o BNDES pôs-se a financiar “urbi et orbe” as grandes obras a fundo perdido, tendo os brasileiros como avalistas.

A universidade, claro, seria, como veio acontecer, o instrumento útil e mais eficiente para este “tournant” mobilizador, ao emprestar a sua voz ao ativismo ideológico que a tornou o bastião das grandes estratégias de tomada do poder, aqui e alhures…

Das trincheiras empoeiradas e cheias de riscos amedrontadores, os exércitos saltaram por cima dos mísseis e das novas tática guerreiras, e fizeram sua modesta morada entre os “formuladores” de estratégias invasivas no campo da informação.

As tropas recolheram-se à caserna e lá ocuparam as bancadas “hackers”, munidas de tecnologias secretas para uma ocasional guerra cibernética. Aplicativos, arquivos e outras técnicas de inteligência artificial substituíram os tanques blindados e deram asas à imaginação de estrategistas descansados, porém atentos aos reclamos do tabuleiro de operações.
O xadrez, tão familiar aos asiáticos, transformou-se em um teatro vivo de operações reais. Aqui é o peão que come o bispo…

A guerra trava-se com as armas solertes porém eficazes da astúcia — com as palavras. Conceitos, definições e teorias, empacotados por metáforas bem costurada, atingem o alvos escolhidos com precisão e com apoio na dialética.

A diplomacia e as artes do governo fazem-se, atualmente, com êxito reconhecido, servidas pelo aprovisionamento de desinformações e fake news e de opiniões pré-fabricadas.

Nada corresponde verdadeiramente, na prática, ao que foi dito. A realidade, hoje, é uma circunstância provisória, sujeita a correções e amoldada a distopias produzidas em série. Nada mais irreal do que a realidade cujo entendimento fora até agora amplamente socializado.

Paulo Elpídio de Menezes Neto

Cientista político, exerceu o magistério na Universidade Federal do Ceará e participou da fundação da Faculdade de Ciências Sociais e Filosofia, em 1968, sendo o seu primeiro diretor. Foi pró-reitor de Pesquisa e Pós-Graduação e reitor da UFC, no período de 1979/83. Exerceu os cargos de secretário da Educação Superior do Ministério da Educação, secretário da Educação do Estado do Ceará, secretário Nacional de Educação Básica e diretor do FNDE, do Ministério da Educação. Foi, por duas vezes, professor visitante da Universidade de Colônia, na Alemanha. É membro da Academia Brasileira de Educação. Tem vários livros publicados.