A casa caiu!!!

No Jargão policial costuma se dizer que “a casa caiu” quando um criminoso é flagrado na prática de um crime e vai preso.

No caso da dupla Boçalnaro, o ignaro, e Michele, a evangelista, com o flagrante de recebimento de presentes dados pelo corrupto e sanguinário governo saudita de Mohammed Bin Salman, sem declaração para o fisco e parte deles apropriado privativamente, e outro apreendido pela Receita Federal graças à firmeza profissional de um fiscal alfandegário, falta apenas a prisão para a configuração da máxima acima referida.

A cada dia que passa as desculpas do casal se evidenciam como esfarrapadas e contraditórias, como alguém que mente e precisa cada vez mais de outras mentiras para negar o fato, até que tudo fica ridiculamente evidente.

Não vou discorrer longamente sobre a crônica policial do fato. A cada dia mais aparecem documentos afirmando que um lote conseguiu passar clandestinamente e foi recebido pelo próprio Presidente, e outro que foi apreendido pela alfândega, como vem sendo noticiado pela imprensa policial com detalhes contraditórios tais como:
– o Presidente afirma que nunca pediu nem recebeu joias sauditas, mas passou recibo de tal recebimento de um dos lotes;
– ao invés de incorporar as jóias recebidas ao patrimônio da União, como é de praxe para presentes recebidos em função do cargo e da representação, foi apropriada privativamente;
– que agora, e muitos meses após a apreensão de um outro pacote de jóias, a primeira dama Michele, a evangelista, afirma que nem sabia que tinha tanto patrimônio e que nem as mesmas lhe haviam sido presenteadas, mas o próprio governo vez várias tentativas de liberação de tais preciosidades cujo valor somente foi revelado quando de uma avaliação para posterior leilão da Receita Federal (o caso se arrasta desde 2021);
– que o Ministro das Minas e Energia, Bento Albuquerque, afirmou, meses atrás, que recebeu, sem protocolo, o que seria um presente saudita para a primeira dama, mas a beneficiária nada sabia a respeito do caríssimo presente;
– que o valiosíssimo presente era transportado na mochila de um servidor público, e que somente foi detectado após verificação por máquinas apropriadas para raio x de objetos que tais;
– que, que, que, que…

A corrupção em razão do exercício de cargos públicos importantes é notória, e não podia ser diferente numa estrutura estatal que dá apoio institucional a uma outra e definitiva corrupção: a forma-valor, que subtrai o tempo valor do trabalhador e proporciona a acumulação do capital pelo capitalista que aparece como benfeitor social por dar o emprego aos que explora e que o enriquece.

Mas há diferenças sobre o destino da corrupção: há quem pratica a corrupção com o objetivo de ficar rico pessoalmente; e há quem quer fortalecer a estrutura partidária. Em ambos os casos tal comportamento é conceitualmente criminoso, além de moralmente e eticamente condenável.

Boçalnaro, o ignaro, e Michele, a evangélica, não têm partidos políticos, nem estruturas orgânicas caras, e se sustentam/sustentaram politicamente numa ideologia política de conceitos anticivilizatórios e retrógrados que calam fundo na inconsciência social e no niilismo populacional, principalmente sobre o que está posto como relação social e institucional, que não é mesmo coisa realmente santa.

Neste ponto o casal se diferencia do nazifascismo clássico que tinha uma estrutura de poder, apesar de identidades quanto à ligação com milícias (tal como eram os camisas pardas), militarismo fanático (como as SS), entre outras muitas identidades conceituais sobre costumes, raças, homossexualismo, etc.

É por isto que a corrupção boçalnarista é privada, primária, baseada no enriquecimento pessoal, e se alia com gente como Valdemar da Costa Neto, que quer dinheiro e poder para negociações tenebrosas a partir do parlamento e apoio institucional, sempre pronto para o toma lá da cá.

Aliás, dizem que por conta do episódio desgastante das jóias, Michele, a evangélica, já foi rifada como pretensa doce encarnação do boçalnarismo no PL. Os ratos são sempre os primeiros a abandonar o navio.

O PT joga o jogo. Não é por menos que o mesmo Valdemar da Costa Neto, hoje demonizado, foi condenado no mensalão e era à época (desde o vice José Alencar, do PL) uma aliado que se virou contra o contra o PT.

Valdemar é coerente: está sempre do lado do governo, qualquer que seja ele, desde que lhe paguem o pedágio.

Mas não pensem que a direita brasileira está morta e sepultada.

A cadela fascista está sempre no cio (Bertold Brecht) e amanhã, se já não der para seguir com Boçalnaro, o ignaro, por sua completa primariedade política e fanforronice obtusa apoiada por filhos zero à esquerda, que mais parecem os sobrinhos do capitão das antigas revistas em quadrinhos, tentará continuar com um direitista tão populista como aparentemente sério e probo a serviço de tudo que é retrocesso civilizatório (como um Sérgio Moro antes de cair a sua máscara de caráter).

Além de genocida, ficou demonstrado na CPI da covid, quão corrupto poderia ser a compra de vacinas que não foram adquiridas em tempo hábil e que transformou o Brasil no campeão de mortes em números relativos (temos 3% por cento da população mundial e 11% de mortes) e o terceiro em números absolutos, perdendo apenas para a Índia e os Estados Unidos.

Al Capone, que durante a lei seca e depressão dos anos de 1920/1930 nos Estados Unidos, matou e extorquiu à vontade, somente foi processado por uma mera sonegação de imposto de renda, modo pelo qual o sistema foi capaz de colocá-lo na cadeia.

Será que o casal Boçalnaro, o ignaro, e Michele, a evangelista, serão condenados pela justiça apenas por míseros R$ 16,5 milhões em jóias apreendidas, que é fichinha em relação à compra de 51 milhões em imóveis à vista e com pagamentos em dinheiro vivo sem comprovação, rachadinhas, entre outros crimes de corrupção que a história ainda haverá de demonstrar?

O capital é corrupto, apesar de descriminalizado, e a corrupção política é o subproduto indesejado por sua lógica totalitária, posto que quer o estado economicamente saudável e a seu serviço, e sem concorrência paralela.

Dalton Rosado

Dalton Rosado é advogado e escritor. Participou da criação do Partido dos Trabalhadores em Fortaleza (1981), foi co-fundador do Centro de Defesa e Promoção dos Direitos Humanos – CDPDH – da Arquidiocese de Fortaleza, que tinha como Arcebispo o Cardeal Aloísio Lorscheider, em 1980;

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