A caçada ao gênero – EMANUEL FREITAS

Uma semana (negativamente) agitada em torno das questões de gênero foi que tivemos entre dos dias 02 e 07 de setembro. A “pátria” unificou-se, ao que parece, numa cruzada contra a questão.  Vimos o prefeito de São Paulo, João Dória (PSDB), mandar recolher apostilas de Ciências da rede estadual de ensino que, em uma página, definia os termos identidade de gênero, sexo biológico, cisgênero, heterossexual, homossexual, bissexual. Uma página com “definições”, apenas. Estranhamente, o prefeito paulistano não recebeu, da opinião pública, o tratamento que mereceu, ou seja, não foi tratado como o que, de fato, foi: censurador!

No mesmo dia, o presidente Bolsonaro (PSL) afirmou ter ordenado que o MEC crie um projeto de lei contra “ideologia de gênero” (sabe-se lá o que isso signifique), com o intuito de retirar discussões em torno da temática das salas de aula.

Dória e Bolsonaro, assim, enquanto encenavam uma ruptura nas páginas (de papel e virtuais) dos jornais, uniam-se na perseguição contra as questões de gênero, sobretudo contra o que ousa falar daquilo que “não ousa dizer seu nome”.

O final de semana, a partir da sexta, assistiu à cruzada do bispo Marcelo Crivella, que também responde pelo cargo de prefeito do Rio de Janeiro (pelo PRB, sigla controlada pela IURD), contra um livro de HQ que continha uma imagem de um jovem casal homossexual beijando-se. Sua ordem foi caçar exemplares na Bienal, o que pôde ser visto nas cenas de fiscais fardados, aos moldes de caçadores, a buscar aquilo que “não se pode ver”.

Por sua vez, em Fortaleza vimos a divulgação fake, por meio de vídeo do deputado estadual André Fernandes (PSL) e de uma rede social da ex-candidata ao Senado, Mayra Pinheiro (DEM), de um suposto material de ensino de técnicas de masturbação infantil que teria sido distribuído durante capacitação na Prefeitura de Fortaleza, que negou veementemente a tal distribuição. Como se soube, a propagação do tal material, de origem apócrifa, deveu-se a um vídeo de uma ex-candidata, veja lá, do PSL!

A “exploração” do sexo está na ordem do dia; dessa vez, contudo, outro é o tipo de “explorador”:  aquele e/ou aquela que pretende faturar eleitoralmente com a deturpação da questão e do pânico criado a partir de uma falsa ameaça, pânico este incitado a partir do inexistente: a “ideologia de gênero”, a destruição da “família”, o kit gay, o material de masturbação infantil e o que quer que o interesse eleitoreiro e a deliberada invenção ouse pensar.

Em 2018 um candidato elegeu-se presidente, dentre outras coisas, disseminando pânico em torno de um tal kit gay e de uma “mamadeira de piroca”, que ninguém nunca viu, mas que mobilizou o pânico suficiente para fazerem-se “verdadeiros”.

Já se vão 15 anos desde a disputa pela prefeitura de Fortaleza, em 2004. Moroni Torgan (DEM) tentou mobilizar, improdutivamente, o pânico da cidade em torno de um item do programa de governo de Luizianne (PT), que dizia tratar “positivamente” a questão da homossexualidade; todo o segundo turno transcorreu sob o “medo” encenando por um atriz de que seu filho “aprendesse” homosseuxalidade na escola.  Por bem, o fortalezense rejeitou a manipulação grosseira feita ali.

Mas, o que acontecerá em 2020? Os medos começaram a ser mobilizados, e o pânico parece cristalizar-se, sobretudo com o deliberado apoio de setores do catolicismo (acima de tudo o carismático), de evangélicos e espíritas.

Emanuel Freitas

Professor Assistente de Teoria Política Coordenador do Curso de Ciências Sociais FACEDI/UECE Pesquisador do NERPO (Núcleo de Estudos em Religião e Política)-UFC e do LEPEM (Labortatório de Estudos de Processos Eleitorais e Mídia)

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Professor Assistente de Teoria Política Coordenador do Curso de Ciências Sociais FACEDI/UECE Pesquisador do NERPO (Núcleo de Estudos em Religião e Política)-UFC e do LEPEM (Labortatório de Estudos de Processos Eleitorais e Mídia)