Assim, vão-se fechando, de par em par, as janelas de uma democracia. Quando a mídia aceita as regras de uma nova ordem em gestação e comete suicidio com as próprias mãos — cortando na carne e dela arrancando a seiva da liberdade de expressão.
A auto-censura é uma forma deplorável de eutanásia, na medida que o jornalista ou os colaboradores da mídia aceitam e se submetem à tesoura dos censores internos. Assim foi posto fogo nos livros da Universidade de Heidelberg, com a cumplicidade de um reitor celebrizado por uma obra filosófica monumental.
Assim foi incendiado o Reichstag, em Berlim. Da mesma forma, a mídia foi estatizada na Alemanha do III Reich. Lenin e Stálin unificaram o pensamento “socialista” em jornais do governo em nome da liberdade. E comungando com esses impulsos patrióticos, um certo candidato, reincidente à presidência, no Brasil, anuncia regulamentação específica para tornar a imprensa mais “livre e democrática”…
Enfim, tomamos a trilha de uma nova democracia.
Entre governos de exceção e excessos cometidos em nome de uma suposta liberdade e de um Estado democrático de direito, perdemos o pouco que nos restava como república e democracia.
A mídia, tal como a conhecemos hoje, ressalvadas as trincheiras de resistência, na mídia ou nas redes sociais, resulta de uma engrenagem permissiva, na qual se misturam os interesses patrimoniais de detentores do capital e um exército de formiguinhas a serviço de ideologias radicais que sequer conhecem as razões que as poderiam explicar.
O cenário que descortinamos não é novo. Só a fragilidade da nossa memória histórica é capaz de permitir que episódios trágicos do passado se repitam — por negligência, má fé ou pelo oportunismo que ronda a política e cria pequenos Frankenstein no poder do Estado. Esses figurantes insólitos, montados pelas peças de diferentes fornecedores, comem as esperanças das pobres criaturas e as expelem sob a forma de esterco ideológico que a muitos enche de prazer e fartam a sua ambição.
Fonte da imagem: https://br.pinterest.com/de-manel-vizoso-censura/