Li, em artigo no Jornal Segunda Opinião, palavras que me deixaram comovida.
Nelas, seu Diretor Osvaldo Araújo, escritor com diversos livros publicados, lamenta que suas edições não tenham sido vendidas. Mas põe o dedo na ferida:
“A gente se conforma com a demanda zero”, diz ele, mas “a dor de não vender deixa de doer. A dor maior é “a ausência completa de feedback. Como dói a indiferença!”.
E completa afirmando que a quase totalidade dos exemplares que não foram vendidos nem doados permanece em suas prateleiras, “juntinhos, arrumadinhos, quietinhos. É o seu destino”.
Destino dolorido, havemos de convir. Porque livros são pedacinhos de nós. Contam-nos estórias, nos trazem reflexões, nos emocionam, nos fazem sorrir.
Escrever um livro é sempre uma entrega de alma, de horas de solidão, de trabalho árduo, de angústias, de dúvidas…
O fato é que nenhum livro está pronto, mesmo depois de editado, impresso e distribuído. O livro só fica completo com a manifestação de cumplicidade do leitor.
Ao escrever, o autor está se confidenciando, compartilhando sua experiência, suas ideias, seus pensamentos, à espera da resposta de algum possível interlocutor, mesmo que acompanhada de alguma crítica.
O que ele não espera é o silêncio, a total indiferença ao seu trabalho.
Nas redes sociais percebe-se que uma simples selfie ecoa mais que um texto postado, seja prosa ou poesia.
Talvez não seja apenas a preguiça que impeça o comentário. Pode ser por medo de não corresponder às expectativas do autor e dos demais internautas; ou pela pouca compreensão daquilo que ali está escrito.
Balzac já dizia: “…é tão natural destruir o que não se pode possuir, insultar o que se inveja e negar o que não se compreende…”
Que pena ! Um livro não se lê apenas com os olhos, é o espírito quem enxerga – é o espírito que ilumina quem consegue sentir além das palavras.
É com o retorno desse modo de sentir que o livro se completa, passando o leitor a ser o personagem mais importante da estória.
James Joyce enviou a vários amigos cópia do manuscrito de “Ulisses” – seu livro mais famoso. Nenhum lhe retornou.
Segundo relato de Stephan Zweig, Nietsche gastou suas últimas economias publicando alguns pensamentos e deles enviando cópia a alguns amigos. Também não obteve resposta alguma.
Depois tornaram-se best sellers. Essa é também a sina de muitos artistas, somente reconhecidos e celebrizados post mortem.
Que esses dois exemplos sirvam não apenas como consolo, mas antes como obstáculo desafiador aos autores – iniciantes ou veteranos.
Afinal, a missão essencial do autor é criar e escrever livros. Empreender, imprimir, vender e lucrar com eles é problema do mercado editorial.
* Renata Moreira da Rocha
Graduada em Administração Pública pela Fundação Getúlio Vargas – São Paulo – Auditora da Receita Federal