CURTAS
— As finanças exageram as diferenças entre nós, enriquecendo os sortudos e os espertos, empobrecendo os azarados e os não tão espertos.
— O “duro”, a moeda espanhola de prata, que foi baseada no “thaler” alemão (por conseguinte, mais tarde, o dólar), se tornou a primeira moeda verdadeiramente global do mundo.
— Dinheiro é uma questão de confiança, talvez de fé: confiança na pessoa que está nos pagando, confiança na pessoa que emite o dinheiro, ou na instituição que honra os seus cheques ou transferências. Dinheiro não é metal. É a confiança registrada.
— Os judeus também não deveriam poder emprestar dinheiro a juros. Mas havia uma brecha conveniente na cláusula no livro Deuteronômio, do Velho Testamento: “Para um estrangeiro, vós podereis emprestar sob a usura; mas não emprestará sob usura ao vosso irmão”.
— A capacidade de financiar a guerra através de um mercado para a dívida do governo foi, como tudo mais na história financeira, uma invenção do Renascimento italiano.
— Depois da derrota final de Napoleão em Waterloo, um homem que crescera em meio ao desalento do gueto de Frankfurt emergia como um Napoleão financeiro: o mestre e senhor do mercado de títulos e da política européia também: Nathan Rothschild.
— Enquanto tivermos um bom negócio e formos ricos, todo mundo vai nos bajular, e aqueles que não têm interesse em obter rendimentos através de nós, nos invejam por tudo.
— Homens de uma raça única e peculiar, que têm, por trás deles, muitos séculos de experiência financeira, eles estão numa posição excepcional para controlar a política das nações.
— Talvez na obra mais importante da história econômica americana jamais publicada, Milton Friedman e Anna Schwartz argumentaram que foi o Federal Reserve System que teve a responsabilidade indutora por transformar a crise de 1929 numa Grande Depressão.
— Lembre-se: não é possuir uma propriedade que lhe confere segurança; ela apenas dá segurança a seus credores. A segurança verdadeira vem de ter uma renda equilibrada e constante.
BONS MOMENTOS
— Uma razão pela qual o sistema (de dívida pública) funcionava tão bem foi que eles, e as outras poucas famílias ricas, também controlavam o governo da cidade e, desse modo, as suas finanças. Essa estrutura de poder oligárquico deu um sólido fundamento político ao mercado de títulos. Diferente de uma monarquia hereditária que não precisa prestar contas, que pode arbitrariamente renegar suas promessas de pagar aos seus credores, as pessoas que emitem os títulos em Florença eram, em grande parte, as mesmas pessoas que os compravam. Assim, não surpreende que elas tivessem um forte interesse em zelar para que seus juros fossem pagos.
— Na época de Shakespiere, fazia quase um século que os judeus vinham provendo crédito comercial a Veneza. Eles montaram seu negócio na frente de um edifício conhecido outrora como Banco Rosso, sentados atrás de suas mesas – suas tavole – e sobre os seus bancos, seus banci. Mas o Banco Rosso era localizado num gueto apinhado a uma certa distância do dentro da cidade. Havia uma razão para explicar por que os mercadores venezianos tinham que ir até o gueto judeu, quando precisavam pedir dinheiro emprestado. Para os cristãos, emprestar dinheiro a juros era um pecado. Os usurários tinham sido excomungados pelo III Concílio de Latrão, em 1179. Até mesmo argumentar que emprestar dinheiro a juros não era pecado tinha sido condenado como heresia pelo Concílio de Viena, em 1311-1312.
— A história econômica da Argentina no século XX é uma prova de que todos os recursos do mundo podem ser reduzidos a zero com uma má administração financeira. Particularmente depois da II Guerra Mundial, o país consistentemente teve um desempenho pior do que seus vizinhos e a maior parte do resto do mundo. Tão miseravelmente ele passou pelos anos 1960 e 1970, por exemplo, que seu PIB em 1988 era o mesmo de 1959. Em 1998, ele havia despencado para 34% do nível do PIB per capita dos Estados Unidos, comparado com o nível de 72% em 1913.
— Um lugar de morte para aqueles obrigados a trabalhar nele, Potosí foi onde a Espanha ficou rica. Entre 1556 e 1783, a “montanha rica” produziu 45.000 toneladas de prata pura, que foram transformadas em barras e moedas na Casa de Moneda e embarcadas para Sevilha… “Valer um potosí” ainda é uma expressão espanhola que significa “valer uma fortuna”. A conquista de Pizarro, ao que parece, fez a coroa espanhola rica além dos sonhos de ganância.
— Numa extensão que mesmo hoje permanece assombrosa, os Rothschild acabaram dominando as finanças internacionais na metade do século subsequente a Waterloo. Tão extraordinário esse feito pareceu aos seus contemporâneos que, frequentemente, tentaram explicá-lo em termos místicos. De acordo com uma dessas explicações que data dos anos 1830, os Rothschild deviam sua fortuna à posse de um misterioso “talismã hebreu” que permitira a Nathan Rothschild, o fundador da casa londrina, se tornar o “leviatã dos mercados de dinheiro da Europa”… os nazistas preferiram atribuir a ascensão dos Rothschild à manipulação de boatos sobre o mercado de ações e outras práticas trapaceiras…de acordo com o best-seller Currency Wars (Guerra de Moedas) de Song Honbing, publicado na China em 2007, os Rothschild continuam a controlar o sistema monetário global através de sua suposta influência sobre o Federal Reserve System, o Banco Central americano.
— Se algum campo possui o potencial para revolucionar nossa compreensão de como o mercado financeiro funciona, ele deve certamente ser a borbulhante disciplina da finança behaviorista. Não é nada clara a quantidade do corpo do trabalho derivado da hipótese dos mercados eficientes que pode sobreviver a esse desafio. Para aqueles que colocam a sua fé na “sabedoria das multidões”, isso significa apenas que é mais provável que um grande grupo de pessoas possa fazer uma avaliação mais correta do que um grupo pequeno de supostos especialistas. Mas isso não é dizer muito. A velha piada de que “os macroeconomistas previram, com muito sucesso, nove das últimas cinco recessões”, não é tanto uma piada quanto uma verdade deprimente sobre a dificuldade do prognóstico econômico.
O AUTOR
Dividindo seu tempo entre o Reino Unido (onde nasceu) e os Estados Unidos, Niall Ferguson é historiador e professor de Harvard, Oxford e Stanford, prestigiosas universidades. Publica artigos com regularidade em jornais e revistas em vários países. Ainda conforme a orelha do livro, ele escreveu e apresentou quatro séries de documentários para a televisão. A revista Times o colocou na lista das cem pessoas mais influentes do planeta.
A PUBLICAÇÃO
O livro A Ascensão do Dinheiro (The ascent of Money), de autoria de Niall Ferguson, foi publicado no Brasil pela editora Planeta em 2009 (um ano depois de seu lançamento no exterior. O livro tem 418 páginas. Uma série de televisão com o mesmo nome foi escrita e apresentada pelo autor (Channel 4). O livro figurou na lista de “best-sellers” do The New York Times.
CIRCUNSTÂNCIAS
O conteúdo foi objeto de longa pesquisa e destinava-se tanto a um livro quanto a um documentário para ser exibido em televisão. Bem próximo do lançamento, estoura a crise financeira de 2008, cujo auge foi a quebra do Lemann Brothers, e cujos desdobramentos ainda estão em pleno curso. Tal fato praticamente só é considerado com alguma profundidade na abertura e na conclusão do livro.
A IMPORTÂNCIA DA OBRA
O principal mérito do livro é a seleção de eventos e personagens que o autor escolheu para contar a história da ascensão (ou queda) do dinheiro. Ele expõe a origem e a evolução dos negócios financeiros privados e públicos numa perspectiva mais aberta do que costumam fazer os economistas. Por exemplo, relaciona as conquistas de Napoleão Bonaparte e Waterloo ao surgimento de um dos maiores mitos do sistema bancário, Nathan Rothschild, mostrando, com boa dose de sutileza, como se imbricam o dinheiro e o poder público. Aliás, o livro todo é também uma história de poder.
O LIVRO
O livro inteiro fala de dinheiro e poder, enquanto relata com um texto leve e rico o surgimento e a evolução dos elementos mais importantes do mundo financeiro. A exploração da riqueza mineral (ouro e prata) de países sul-americanos que financiou a Espanha no seu melhor momento é relatada tendo como exemplo a “montanha rica” de prata de Potosi, sem esquecer a condição sub-humana a que eram submetidos os trabalhadores nas minas.
As primeiras empresas de capital aberto e o desenvolvimento das primeiras bolsas de valores são assuntos imediatamente seguidos das primeiras bolhas que enriqueceram uns poucos e empobreceram milhares.
O surgimento do mercado de títulos de dívida pública e sua relação com o financiamento de guerras também é apreciado e ilustrado com fatos históricos relevantes da França, da Inglaterra e da Itália, entre outros. Aliás, o autor credita à Itália da época do Renascimento muitas das inovações práticas do sistema bancário.
Os negócios de seguro e de previdência também têm suas histórias contadas desde a origem. E em todos os eventos, o autor coloca em cena personagens importantes e interessantes da trajetória dos mercados e dos governos.
Só na abertura e na conclusão, o livro trata da crise financeira que abalou o mundo desde 2008.