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16 VOZES REPRESENTATIVAS DA MPB – Parte 2

“Eu prefiro ser essa metamorfose ambulante do que ter aquela velha opinião formada sobre tudo.”
 
Raul Seixas
 
A partir dos anos sessenta, especialmente na segunda metade, outras grandes vozes femininas embalaram os nossos gostos musicais com sonoridades maviosas.

A gauchinha ELIS REGINA, com sua voz poderosa e domínio vocal impecável, arrebatou a todos com sua impressionante presença de palco e formou um conjunto impactante de mise-em-scène a ponto de muitos a considerarem a maior cantora feminina entre todas as cantoras brasileiras.
O seu recurso vocal aliado à expressão de verdade dos sentimentos interpretativos de seus trejeitos de palco (Eliscóptero dos tempos de ouro dos festivais de música dos anos 60), consagraram essa excepcional cantora prematuramente falecida em 1982, aos 36 anos”.
Fez dupla com Jair Rodrigues num show intitulado “Dois na Bossa”, com pot-pourri de sambas que se tornou indispensável como registro da qualidade das músicas brasileiras e de sua incrível performance.
Seu repertório é recheado de grandes músicas como “O bêbado e o equilibrista” de Aldir Blanc, que se tornou o hino da anistia aos presos e condenados políticos, e selou o fim do regime político de exceção e consequente volta ao estado de direito. A sua interpretação da música “Como nossos pais”, do cearense Belchior, se tornou um clássico da MPB.
A música “Arrastão”, de Edu Lobo e Vinicius de Morais, marcou a sua estreia no cenário nacional como grande intérprete, que se seguiu a tantas outras como “Águas de março”, de Tom Jobim, “Maria, Maria”, de Fernando Brant e Milton Nascimento, e de versões de clássicos da música internacional como “fascinação”.
NARA LEÃO, a capixaba mais carioca do sudeste brasileiro, foi a principal musa da bossa nova. A menina do Bairro de Ipanema, na zona sul carioca, cedo se enturmou com os precursores da bossa nova Roberto Menescal, Carlos Lira e Ronaldo Boscoli, de quem foi namorada, para pontear com sua voz adequada ao gênero de samba intimista feito para embalar o amor à beleza e à vida.
Mas nem só de bossa nova Nara Leão viveu. Ainda no ano de 1965 aderiu ao chamado samba-afro, que incorporava forte dose de protestos ao recém-inaugurado regime de exceção militar de 1964, com o show “Opinião”, do Teatro Arena, com a participação de João do Vale, Zé Keti e outros, que teve grande repercussão e suas músicas se tornaram sucessos nacionais.
Depois disso, e já nos festivais de música da TV Record, que fizeram grande sucesso presencial e televisionado, fez sucesso interpretando a música “A Banda”, de chico Buarque de Holanda, que ganhou o festival de música de 1966 daquela emissora de TV e se consolidou como grande intérprete. Essa música se tornou emblemática do autor e dela como cantora.
 MARIA BETÃNIA, veio da Bahia ainda muito jovem, com 19 anos, convidada por Nara Leão, que a havia visto atuar em Salvador, e reconheceu a sua capacidade musical e cênica como intérprete musical de expressão dramática capazes de emprestar brilho ao espetáculo musical e teatral “Opinião”, do qual precisava se ausentar.

Betânia a substituiu e interpretou a música “Carcará”, de João do Vale, de tal forma impressionante, que alçou ambas (música e intérprete) a um sucesso nacional, que ainda hoje, quase 60 anos depois, e após grandes outros sucessos da cantora, o seu nome é ligado a ela imediatamente.

Músicas como “Explode coração”, de Gonzaguinha, na voz de Betânia ganha uma tonalidade tal que parece vermos o explodir da emoção que ela suscita. Irmã mais nova do divino maravilhoso compositor Caetano Velloso, que escolheu seu nome ao nascer por conta da música homônima do grande Capiba, consegue dar luz ainda a maior às maravilhosas composições dele.
O resto já se sabe, pois já se vão alguns anos do carnaval de 2016 no qual foi homenageada pela Escola de Samba Estação Primeira de Mangueira e ajudou-a a ganhar o título de campeão do desfile da Marquês de Sapucaí, no Rio de Janeiro, naquele ano.
Maria da Graça Costa Penna Burgos, ou simplesmente GAL COSTA, foi a musa do tropicalismo, movimento musical e estético baiano criado por Caetano Veloso, Gilberto Gil, Torquato Neto, Capinam e outros.

Baiana de Salvador, desde a juventude era amiga de Sandra e Dedé Gadelha que casariam com Gilberto Gil e Caetano Veloso, respectivamente. E foi Dedé quem a apresentou a Caetano Veloso em 1963. No ano seguinte já participava ao lado dele, de Gil, de Maria Betânia e Tom Zé, dentre outros, no espetáculo intitulado “Nós, por exemplo!”, que inaugurou o Teatro Vila Velha.
Depois de gravar alguns compactos sem sucesso e não ser notada no 1º Festival de Música da TV Excelsior, em 1965, no qual defendeu a música “Minha Senhora”, de Gilberto Gil, lançou a primeiro LP em 1967, a duas vozes, o acústico “Domingo”, ainda com o nome de Maria da Graça, e desfilou juntamente com Caetano um repertório de músicas suaves.
No final de 1968 tudo mudaria, com Caetano e Gil decidindo não participar como intérpretes do Festival de música da TV Record, e delegaram a ela a missão de representar o movimento tropicalista com o nome de Gal Costa e com um visual muito agressivo e encenação de voz no estilo Janis Joplin.
Parecia outra pessoa, diferente daquela cantora suave de antes, e que agora era capaz de alcançar notas musicais altíssimas, dando ao movimento tropicalista a dimensão que desejavam. Passou a ser admirada e observada com interesse em vários estilos, como sua interpretação delicada na emblemática canção “Baby”, de Caetano Veloso. Tom Jobim apreciava a sua voz e se tornou uma cantora de expressão nacional e internacional.

BETH CARVALHO pode ser considerada com uma diva do samba. Cantora, compositora e instrumentista, dona de uma voz original, ela apareceu para o cenário musical no Festival de Música da TV Record, em 1968, interpretando a vigorosa e bela música “Andanças”, de Paulinho Tapajós, Danilo Caymmi e Edmundo Souto, ficando em terceiro lugar.
 Cantora muito querida pelas sambistas cariocas a quem alcunhavam de Rainha do Samba, filha de Deputado cassado pelo golpe militar de 1964, Botafoguense e Mangueirense, Beth Carvalho é carioquíssima, e foi responsável pela apresentação ao Brasil de artistas como o grande Zeca Pagodinho, bem como do resgate histórico de grandes compositores como Nelson Cavaquinho e Cartola, que à altura e injustamente, andavam meio esquecidos.
Sua interpretação de “As rosas não falam”, de Cartola, juntamente com “Folhas secas” de Nelson Cavaquinho, são antológicas, e a música “Coisinha do Pai” de Jorge Aragão, que foi lançada numa nave para o espaço sideral, figuram com destaque entre outros grandes sucessos cantados aqui e alhures.

ALCIONE Dias Nazareth, a marrom, maranhense nascida em 1947, compositora e multi-instrumentista, filha de policial militar músico e espírita, dividiu seu interesse por música desde cego com a função de professora primária que por dois anos ensinou meninos a ler (e tocar instrumentos de sopro, que lhe valeu advertência da direção escolar), é uma das mais notórias sambistas do país, e não só, por enveredar em outras searas com igual desenvoltura.

Começou contando em bares e na TV do Maranhão até 1972, quando aos 25 anos se transferiu para o Rio de Janeiro tentando a sorte como cantora. Começou cantando em bares e boates do Rio de Janeiro, recebendo sempre crescente admiração, até participar no programa de calouros de TV de Flávio Cavalcante, e esse foi o trampolim para um reconhecimento nacional como a grande cantora que é.

Em 2018 foi homenageada pela Escolada de Samba Mocidade Alegre, mesmo sendo integrante há anos da Escola de Samba Estação Primeira de Mangueira, o que demonstra o reconhecimento dos sambistas pela contribuição da Marrom ao samba brasileiro.
Músicas com “Você me tira a cabeça”; “Estranha Loucura; “Mulher ideal”; “A loba”; “Meu vício é você”, entre tantas outras, constituem-se como clássicos da MPB, e são cantadas permanentemente em rádios, Tvs, e agora nos sistemas eletrônicos das plataformas digitais. A marrom tem um recurso vocal admirado pelos profissionais da música e vez por outra ensaia tocar seu trompete e clarinete dos tempos em que vivia na Ilha do Amor, a cidade de São Luís.

CLARA NUNES é a bela guerreira mineira filha de Oxum com Yansã. Adepta do candomblé, ela é a representante do sincretismo religioso musical afro-brasileiro. Portelense da ala dos compositores da Escola de seu coração, ela deve ter ficado feliz lá do Céu em 1917 pela conquista do campeonato no desfile das Escolas de Samba do Rio de Janeiro na Marquês de Sapucaí.
Pesquisadora do folclore brasileiro, das danças e músicas africanas, foi considerada pela Revista Rolling Stone como a nona maior voz feminina do Brasil e uma das primeiras a superar a barreira de 100 mil discos vendidos, quando se vendia discos. Dona de beleza física reconhecida e de uma voz inconfundível, ela construiu um grnde repertório inerente às suas crenças apesar de ter nos deixado precocemente aos 40 anos de idade, em 1983, por conta de uma reação alérgica numa pequena cirurgia de varizes.

Músicas bem ritmadas como “Morena de Angola”, de Chico Buarque, e “O mar serenou”; “Você passa eu acho graça”; “Feira de Mangaio” e tantas outras estão incorporadas aos clássicos da MPB e são revisitadas constantemente por seus admiradores, muitos deles nascidos depois de sua partida.

Por última, nesta lista seletíssima e pessoal, porque seria muito grande a citação de tantas cantoras brasileiras que fazem com que a música brasileira seja respeitada e admirada mundo afora, vem a cantora MARISA MONTE, que além de muita beleza e expressão de palco, é grande instrumentista e compositora de reconhecido valor artístico.
É detentora de grande prestígio internacional e campeã de vendas de discos tendo alcançado a marca de mais de 10 milhões de cópias vendidas, o
que lhe deu certificado de cantora internacional conquistando cinco Grammys latinos de música pop contemporânea.

A revista Rolling Stone classificou-a como a maior artista brasileira de todos os tempos, e músicas como “Infinito particular” composta em parceria com Arnaldo Antunes e Carlinhos Brawn; “Bem me quis”; Beija eu”; “Amor I love you”; “Já sei namorar”; “Velha infância, entre tantas outras, são daquelas que agradam aos nossos ouvidos e nos confortam pela beleza de suas mensagens sempre que as ouvimos.
Espero que tenham gostado da seleção, o que não os impede de inserirem os nomes que quiserem em suas listas preferenciais.  

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