A vaidade, evidentemente, é intrínseca aos humanos. Quanto mais eles pensam que sabem, mais orgulho têm de si. No Cristianismo, a vaidade[soberba] é um dos sete pecados capitais, ao passo que, na Filosofia, assume um senso mais amplo de egoísmo e orgulho.
Nessa circunstância, assinalamos que as ambições e as vaidades apagam as biografias de quem as conduz, enquanto a consciência de sua falibilidade, bem como a humildade para reconhecer erros, admitir e se desculpar por ter errado, enobrece a pessoa, a restaura, honra e dignifica. Nietzsche já hospedava a ideia de que “[…] a vaidade é o medo de ser original”.
O Dr. Carlos Roberto Martins Rodrigues Sobrinho, Secretário da Saúde do Estado do Ceará, teve a coragem de ser original, quando, em entrevista coletiva, no último dia 14/09, como gestor, despindo-se de toda e qualquer vaidade medico-cientifica, e com a responsabilidade de professor–titular da Faculdade de Medicina da UFC, afirmou que o tratamento precoce do paciente infectado pela COVID-19 melhora suas condições clínicas. Disse, ainda, que a Organização Mundial da Saúde – OMS, e o Centro de Controle e Prevenção de Doenças –CDC – EUA, erraram ao orientar no sentido de que os pacientes gripados, assintomáticos, e os não graves deveriam permanecer em casa. De tal maneira, pois, esses órgãos, de acreditação internacional, induziram autoridades da área da saúde do mundo inteiro ao mesmo desacerto.
O reconhecimento público de que também errou, assim como o fizeram os demais secretários de saúde de todo o País, ao seguirem essas recomendações da OMS, enquanto o presidente Bolsonaro demitia um ministro da Saúde, a cada mês, por também atenderem a mesma orientação, lhe valeram as mais desqualificadas críticas, inclusive de alguns dos seus colegas, e de pretensas entidades representantes dos médicos, inclusive com ameaças até de processos. Tais fatos evidenciam, a um só tempo, oportunismo, desonestidade de propósito e confissão pública da falta de compromisso com a saúde da população, e com aqueles que se dizem representar.
Meus leitores, pessoas do meu convívio e relação, e quem partilha das opiniões por mim expressas nos media, conhecem o fato de que não sou médico. Por conseguinte, não posso emitir opinião clínica, evidente, em especial, pelo fato de não reunir conhecimento para tanto. Plausível, contudo, é inferir que, ante uma doença nova provocada por um vírus desconhecido até então –Sars-Cov-2, os citados, assim como outros erros cometidos, que provocaram, inclusive, muitas mortes entre os profissionais da saúde, decorreram da necessidade e da urgência de aprender fazendo.
Ainda que com algum atraso, perceber que o doente tratado mais precocemente “[…] melhora a qualidade da estratificação do risco e o resultado do tratamento, essa teria sido a forma mais correta de comunicar”, em meu sentir, admiti–los como fez o Dr. Cabeto, foi o primeiro passo para corrigi-los; ou não?Corrijam-me os autores dessa crítica oportunista ainda no plantão da insensatez.
Significa uma estupidez negar os esforços e os altos investimentos autorizados pelo governador Camilo Santana, a dedicação do Secretário da Saúde e de toda sua equipe para oferecer o melhor e o mais eficaz tratamento aos pacientes infectados pelo coronavírus. É, também, tolice, uma grosseria, contestar a terapia dirigida aos demais pacientes, dotando de UTIs os pequenos e médios hospitais de várias cidades do Estado, com respiradores (foram mais de 100), e que agora ficarão nesses hospitais, oferecendo melhores condições de trabalho para os médicos e enfermeiras e, principalmente, melhor atendimento para os pacientes. Isto configura, pois, um destempero, insânia, comportamento de “neoinsensatos”, tão ou ainda mais grave do que qualquer erro ocorrido durante a guerra travada para enfrentar a pandemia da COVID-19.
Na realidade ora enfrentada, me permito transcrever a íntegra da mensagem postada nas redes sociais pelo Dr. Pedro Nogueira, ex-professor do agora Secretário da Saúde do Estado:
“Minha lembrança mais forte de Carlos Roberto Martins Rodrigues Sobrinho (vou chamá-lo assim por julgar que dignifica como poucos o nome honrado da sua família) é como meu interno e residente de Clínica Médica, com o qual convivi ombro a ombro durante três anos. Foi um interno e residente exemplar, um dos melhores que conheci em meus 40 anos de professor. Do excepcional médico que é, não preciso falar. Mas vou falar aqui do secretário de Saúde, função na qual se superou.Todos sabemos que os corredores dos hospitais públicos do Ceará se esvaziaram, pelo aumento da eficiência e pela redução da média de permanência. Aí veio a tragédia do Covid. E todos que têm um mínimo de honestidade sabem que, apesar da gravidade da pandemia entre nós, nenhum Estado investiu tanto, nenhum Estado aumentou tanto e tão rapidamente o número de leitos, nenhum Estado fez tantos testes quanto o Ceará. Milhares de vidas foram salvas por ele e pela dedicação dos profissionais de saúde da linha de frente, entre os quais ele próprio, que foi um dos primeiros médicos a contrair a doença. Mais recentemente, Carlos Roberto deu uma declaração, prenhe de sinceridade, dizendo o óbvio, ou seja: que nessa pandemia o mundo inteiro errou. A declaração foi de uma humildade exemplar.
Foi o bastante para que os talibans do bolsonarismo começassem a lhe fazer acusações infames. Não percebem que, ao fazê-lo, ofendem um médico, professor e gestor exemplar, geram indignação na categoria e, consequentemente, perdem votos”
Os talibãs referidos pelo Dr. Pedro Nogueira, no post que transcrevemos, devem admitir que ter considerado a COVID-19 “uma gripezinha” foi o mais grave de todos os erros cometidos até aqui, ao lado do incivil e despolido comportamento de não respeitar os protocolos sanitários, como o simples uso de máscara, e não aglomeração, além da prescrição e crença na ingesta de um medicamento sem qualquer comprovação científica e eficácia no tratamento contra o coronavírus.
Demais disso, deve ser evidenciado o esforço despendido pelo Dr. Cabeto junto aos deputados na Assembleia Legislativa, nas várias e intermináveis audiências públicas. Ele debateu com a APRECE, que representa os prefeitos dos 183 municípios,objetivando estabelecer, com a participação dos parlamentares, uma política de saúde para o Estado, mediante aprovação de leis, redefinindo as competências dos Municípios, premiando com aumento dos percentuais da cota do ICMS para aqueles que oferecessem melhores resultados na área da saúde, bem como para atualizar e modernizar a estrutura organizacional da Secretaria da Saúde.
Na seara tecnológica, os avanços são ainda maiores, pois uma moderna infraestrutura está sendo implantada, para utilização da telemedicina. Assim, em breve, estará em funcionamento uma central para diagnósticos, nas mais distintas e complexas especialidades médicas, para auxiliar os profissionais de saúde, especialmente os médicosem todo o Estado, com vistas a que eles atendam com maior rapidez e eficácia aos pacientes em qualquer cidade do Ceará, além da construção e conclusão de hospitais.
Conforme ensina a sabedoria árabe, “os cães ladram, mas a caravana passa”. Nada irá impedir, por conseguinte, que essas forças sigam o seu rumo benfazejo!
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