Verso e prosa, por Luciano Moreira (Xykolu)

Feliz Natal!

Fecharam-se-lhe as portas das hospedarias – estalagens, albergues e abrigos – da cidade.

Esquivaram-se-lhe todos os estalajadeiros e albergueiros e até mesmo os homens de bens.

Limitaram-se os belemitas a dispensar-lhe uma indiferença insensata e inconsequente.

Instalou-se, à falta de opção, o casal nazareno em rústico estábulo em gruta circunjacente.

Zombar d’Aquele que estava por vir, todos, de uma forma ou de outra, foram capazes de…

 

Natividade: José, em sua simplicidade, assiste Maria, que dá à luz o Filho do Homem,

Ante o olhar intrigante de bois e cabras e sob o brilho tremeluzente das estrelas.

Tendo por berço uma simples manjedoura, nasce ali o Profeta do Amor e da Paz!

A humanidade, por isso, hoje comemora: rejubila-se, regozija-se, congratula-se.

Luz! O Menino de Belém viera para, pelo amor fraterno, resgatar-nos das trevas!

 

Amigo oculto

Todos lhe renderam a atenção que sempre fez por merecer.

Ela também não economizou em simpatia, com uma simplicidade graciosa – ou seria graciosidade simples?! –, enquanto apresentava, em detalhes, o seu amigo oculto:

“Ele vive apegado a mim; não me larga; não me deixa um minuto sequer. Faz questão de conviver comigo todos os momentos, todas as situações com que a vida experimenta a minha capacidade de sobrevivência, minhas paciências e resiliências. É companheiro de todas as horas; é parceiro incomparável. Reage silenciosamente aos meus ataques – de qualquer matiz – contra ele. Ultimamente, até se fortaleceu com a chegada de três amigos que usam a mesma estratégia de compartilhamento com a minha já desgastada, pelo tempo, existência. Ele sorri com as minhas manifestações de alegria; regozija-se com as minhas vitórias pessoais; demonstra incomodar-se com as minhas tristezas, com os meus acabrunhamentos; revela-se enternecido com as minhas lágrimas; consterna-se com os meus sofrimentos; e até se contrita com as minhas orações e preces. Acompanha-me nas caminhadas matinais e até se deita comigo na hora do relaxamento ou quando o sono me abate. Não me deixa ir sozinha a teatros, igrejas, praças, pizzarias, choperias, restaurantes, churrascarias… Quando me deleito degustando o néctar dos deuses, sinto a sua onipresença silenciosa a observar-me. Então, eu lhe digo: ‘Pelo visto, você vai comigo até para a tumba!’. E vai, sim. O meu amigo oculto já faz parte de mim: na alegria e na tristeza, na saúde e na doença, na riqueza e na pobreza, amando-me, respeitando-me e sendo-me fiel… até que a morte não nos separe. O meu amigo oculto é… o diabetes! Convivo com ele – e seus parceiros, os três mosqueteiros: o triglicérides, o colesterol e a hipertensão – numa relação de superação, de compadrio, de amizade longeva. E, para mantê-los calmos, sob controle, o meu presente natalino é um mix de glimepil, galvus met, sinvastatina e lisinopril. A todos nós: SAÚDE!!!”

Boas Festas a todos que me honram com sua leitura!

Francisco Luciano Gonçalves Moreira (Xykolu)

Graduado em Letras, ex-professor, servidor público federal aposentado.

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Francisco Luciano Gonçalves Moreira (Xykolu)

Graduado em Letras, ex-professor, servidor público federal aposentado.