A verdade e as mentiras na conta da Previdência III, por Osvaldo Euclides

A mensagem chegou pelo celular anteontem : “Nos últimos meses, minha equipe e eu analisamos 2.610 planos de Previdência Privada, os famosos VGBL/PGBL. Encontramos somente 5 capazes de lhe garantir uma renda digna no futuro. Todos os demais, oferecidos principalmente pelos Grandes Bancos, estão destruindo o projeto de vida de sua família”. E a mensagem sugere a leitura de um estudo detalhado do tema. Assinado: Empiricus Research, parte de um agressivo e aparentemente bem-sucedido grupo gestor de investimentos do mercado financeiro.

Outra mensagem, faz uma semana, veio pelas ondas da rádio CBN, da Rede Globo, na palavra de Mauro Halfeld, simpático consultor de investimentos, ao responder a um executivo se devia parar de recolher ao INSS (porque de carteira assinada passou para contrato de pessoa jurídica) e investir num VGBL/PGBL da Previdência Privada: “Não, não pare. Mantenha a contribuição ao INSS. Ele é sua melhor opção. Nenhum fundo de previdência privada oferece as vantagens que o INSS dá a você e à sua família. Nenhum deles iguala a aposentadoria oficial”. A citação não é literal, mas a mensagem foi clara, é esta.

É importante para muita gente saber exatamente o que essas duas informações significam no momento em que o governo ameaça fazer uma reforma previdenciária, argumentando que ou muda e endurece as regras ou o sistema público de aposentadoria quebra. Como, para convencer de que a reforma é indispensável, o governo não apresenta suas bases de dados e as premissas com que faz suas previsões, o déficit projetado ora para daqui a dez anos, ora para daqui a vinte anos, ora para o ano de 2060, não oferece nenhuma confiança, fica parecendo um pretexto para atingir outros objetivos.

A imprensa tradicional apoia a tal reforma, mesmo que ela nem tenha sido apresentada ainda. O negócio da aposentadoria no mercado financeiro privado é uma espécie de jóia da coroa. Os fundos se comprometem pouco, garantem menos ainda, cobram taxas de administração relativamente salgadas e ficam gerindo o dinheiro por décadas, num mercado de baixíssima competição. E sobre isso ninguém fala.

E as duas informações acima devem acender um sinal pelo menos amarelo para qualquer pessoa não-rica e que acredita que vai viver para chegar na velhice. Quando se é jovem e a maré das rendas e dos negócios está bem, ninguém se preocupa com a aposentadoria. Nesse ponto, quase todo mundo se sente meio Super-Homem, ou Super-Bobo, e acredita que quando chegar aos 60 anos, tudo estará resolvido. Acredite: só é assim para uns poucos escolhidos ou de muita sorte.

Por que a previdência pública é melhor que a previdência privada? Porque o Estado contribui também por você, porque ela não visa lucro, porque ela assume os riscos e lhe dá garantias, além de oferecer seguros de vida, acidente e doença sob certas condições. Sobretudo, porque é um programa de solidariedade. De toda a sociedade que trabalha e produz para com aqueles que, sob certas condições, vão parar de fazê-lo.

Quando um investidor faz uma aplicação séria, segura e líquida, numa instituição bancária privada de primeira linha, ele deve saber que o rendimento é baixíssimo, quase nulo, considerada a inflação e a tributação (além das taxas e tarifas que o banco cobra). É assim, mesmo. Traduzindo: ele vai retirar depois apenas o que colocou, muito pouco mais ou um pouco menos. Por isso, ninguém se iluda com a previdência privada, até porque nem mesmo os bancos fazem promessas e dão garantias, a legislação proíbe.

Este debate poderia e deveria estar ocorrendo na grande imprensa. Talvez ele ocorra no Congresso Nacional e, nesse caso, os senadores e deputados fariam a defesa dos interesses mais legítimos da população, mas eles costumam submeter-se à pressão da imprensa. E a imprensa já se posicionou.

Osvaldo Euclides de Araújo

Osvaldo Euclides de Araújo tem graduação em Economia e mestrado em Administração, foi gestor de empresas e professor universitário. É escritor e coordenador geral do Segunda Opinião.

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Osvaldo Euclides de Araújo

Osvaldo Euclides de Araújo tem graduação em Economia e mestrado em Administração, foi gestor de empresas e professor universitário. É escritor e coordenador geral do Segunda Opinião.