Uma inação por motivos eleitorais. Por Haroldo Araújo

A tragédia mais conhecida (Hamlet) no monólogo da primeira cena do terceiro ato na peça homônima de William Shakespeare (1564-1616) ficou famosa com: “Ser ou não ser”. Em nossos dias não é hesitar ante a própria vida, mas sim a indecisão sobre ação a ser tomada ante os fatos. É um erro a indecisão? Não quando os fatos independem de uma ação volitiva. Sim quando os fatos são “Internos” e se relacionam com a inação.

Os economistas, professores e analistas de países afetados por essa crise não têm uma receita pronta, por que? Porque ela afeta de forma diferente cada nação e conforme suas especificidades de situação econômica. Uma coisa é consenso: Os países mais afetados são os países emergentes e neles está incluído o Brasil. Internamente podemos e já deveríamos ter mostrado, no mínimo: O que fazer! Pouco ou nada se fez.

Márcio Garcia (Ph.D. por Stanford) acredita que o cenário mundial vem piorando muito. Nós afirmamos em artigos anteriores que as medidas internas a serem tomadas seriam de caráter construtivo a exemplo das reformas, mas já foram abandonadas, como foi abandonada a reforma previdenciária e, ainda assim, estamos nos dando ao luxo de paralisar as exportações, os transportes o abastecimento com greve de transportadores.

Se queres a paz prepare-se para a guerra. Até parece que não estamos em guerra? China e EEUU promovem uma guerra comercial. Os EEUU crescem! Nem isso eu sei se é bom, principalmente para os dependentes de capital externo (Brasil no meio). O crescimento dos EEUU já obriga o FED (Federal Reserve) a adotar a elevação dos juros há tempos discutíamos os desdobramentos. Novos rumos! O FED faz um aperto monetário.

O aperto monetário que o banco central dos EEUU (FED) se vê na obrigação de realizar, vai atrair capitais de volta para aquele país, com a consequente depreciação das moedas dos emergentes. Como se pode verificar, a alta do dólar deverá ser contida pelo Banco Central do Brasil, via SWAPS, mas apenas em seus movimentos bruscos. Sabe-se que a medida não visa a segurar a taxa, mas assegurar taxas compatíveis e trocas.

O objetivo principal é permitir as trocas no mercado de câmbio (compras e vendas) e garantir o necessário funcionamento das operações e a consequente liquidez. Se o Brasil não tem déficit em conta corrente ótimo, então precisamos continuar trabalhando para assegurar essa situação e assim evitaremos que surjam situações que ensejem tal indicador de forma negativa, como é o caso da Turquia e da Argentina.

Nos preocupamos muito porque o Brasil não está cuidando do que se faz necessário cuidar e fazer internamente. Afirmamos que algumas medidas só dependem de entendimentos. Por exemplo: “O Déficit Fiscal Crescente”. Como se pode verificar isso decorre de inação ou vacilação de nossa classe política, que se apresenta ao eleitor com o desplante de elevar tom das críticas às ações que visam não parar o Brasil.

O Banco Central já interrompeu a trajetória de queda dos juros e poderá sinalizar um viés de alta. Só não o faz, bruscamente, para assegurar os números do crescimento e sem que afete a viabilidade da esterilização como contrapartida das intervenções no câmbio ao atuar conjuntamente com o tesouro nacional na redução de M1 (meios de pagamento de maior liquidez). Esforço que poderia ser amenizado com as reformas.

Volto à necessidade de lembrar que o povo brasileiro espera que o bom senso retorne e que prevaleça esse bom senso na cabeça das autoridades governamentais e não o contrário (legislativo no meio) e que não fiquem na inação por motivos eleitorais.

Haroldo Araujo

Funcionário público aposentado.

Mais do autor

Haroldo Araujo

Funcionário público aposentado.