Um juiz de Curitiba não pode ser mais do que uma peça menor da engrenagem posta em marcha em 2013. Ele é apenas um, digamos, operador, embora de uma parte importante da máquina pública, espécie de última instância, usada quando todas as outras não se mostram eficazes. Ele já havia mostrado sua capacidade e habilidades no caso Banestado, quando o sistema parecia estar em risco. Além disso é jovem, tem garra, estilo e convicções de sobra. Ele fornece combustível indispensável para se manter acesa a chama do combate à corrupção num estrato social decisivo, a classe média alta ( que pensa e age como se fosse a dominante). Resta-lhe pouco a fazer, e ele fará.
Pouca gente percebe que três eventos empurraram o movimento político-institucional que ainda não se completou. Tudo começa antes de 2013, quando o governo ameaça entregar a conselhos populares as decisões da administração federal. Só esse absurdo típico da velha Rússia bastaria, mas veio a queda forçada dos juros de remuneração dos títulos da dívida pública, elemento vital que não poderia sair do controle, junto com uma orientação expressa de colocar Banco do Brasil e Caixa para concorrer com a iniciativa privada. Por último, mas não menos importante, o governo toma atitude de confronto com nosso principal parceiro político, tecnológico, comercial e financeiro, os Estados Unidos, afrontando a doce figura de Obama, como se fosse novidade que eles espionam tudo e todos por aqui e no mundo todo.
Como dito, o movimento não acabou. Há uma centena de operações econômicas em andamento, há um leque de mudanças legais a concluir e há as reformas indispensáveis, inadiáveis e urgentes para baixar os custos com a remuneração de trabalhadores (aposentadoria e salários). Estamos encostando no item final da agenda, que é garantir estabilidade política e econômica após 2018, aconteça o que acontecer em 2018. Ou seja, é preciso impedir qualquer chance de recuo.
Agora é a hora da onça beber água, briga de cachorro grande. Lula contra Globo. Ou Globo contra Lula. Este já deveria ter sido derrotado, isso deveria ter acontecido antes do impeachment, houve uma falha evidente na operação. O fato é que agora o confronto é inevitável, não se pode disfarçar, nenhum dos dois tem a opção de recuar. Não é como no jogo de pôquer, não dá para blefar.
A Globo pode perder e recuperar-se, mas não será jamais a mesma. Lula também pode perder e recuperar-se, podendo até sair maior, como um mártir. Ambos estão vivos, ativos e motivados.
E o Brasil? O que o Brasil aprenderá com estes quase quatro anos excepcionais?