Star Wars – Rogue One: A sadia modulação em nosso imaginário

Quando Star Wars III – A Vingança dos Sith foi lançado em 2005, a impressão que se tinha era de que a hexologia chegaria, de fato, ao fim na metade dos anos 2000. Mas com a retomada da franquia ao cinema com Star Wars: O Despertar da Força (2015), o fôlego do projeto criado por George Lucas está sendo retomado em outros filmes sequência e seus derivados. Dessa última modalidade, surge Rogue One: Uma História Star Wars (2016).

Dirigido por Gareth Edwards (Godzilla – 2014), o longa pode ser entendido como uma estória que ocorre entre os episódios III e IV da série. E narra missão realizada pela aliança rebelde na tentativa de roubar os planos da Estrela da Morte e repassá-los aos opositores do Império Galáctico.

Com uma estória bem condensada, o longa explora recursos narrativos dos filmes originais e das obras mais recentes, como vimos no episódio VII. Entretanto, existem alguns pontos que Edwards conseguiu aplicar no filme que positivamente ressoaram no todo que o trabalho se constitui. Um desses pontos é o tom sóbrio narratológicamente falando.

E dizer isso é perceber que as personagens deste filme são um pouco mais polidas que os observados em O Despertar da Força. Aqui, temos uma Jyn Erso (Felicity Jones) que é construída sobre uma personagem que não necessariamente precise nos ficar fazendo rir em momentos aleatórios quando não desnecessários. Suas motivações são mais bem definidas em relação às de Rey (Daisy Ridley).

A causa e efeito das ações da heroína do episódio VII nos vem muito forçadamente ou como dizemos nos cinema: por meio da velha ideia do “Deus Ex-Machina“. ¹ Ou seja, ainda parece difícil o entendimento de como Rey descobre o poder da Força tão abruptamente naquele filme dirigido por Abrams.

Essa seria outra característica que torna Rogue One mais “completo” que seu antecessor. Enquanto espectadores, sentimos que os eventos sucedem de forma mais ordenada e fluida em relação ao longa dirigido por J. Abrams. Fruto de uma montagem mais elaborada, ficamos certos de que essa seria uma necessidade que o filme teria de cumprir uma vez que a ele também cabia o papel de explicar às novas e “antigas” gerações como a franquia original (1977 a 1981) teve início.

E se temos de fazer escolhas, certamente, olharmos para a franquia pelo retrovisor daquilo o que foram os episódios I a III de 2001 a 2005, mais vale termos para nossa referência os trabalhos lançados recentemente de 2015 a 2016. Mas além do livre exercício da contação de estórias, o cinema é também todas as escolhas empregadas por seus realizadores e grandes estúdios, quando falamos do mainstream.

Se olharmos para a franquia pelo retrovisor dos episódios I a III (2001 a 2005) mais vale termos para nossa referência os trabalhos lançados de 2015 a 2016 Photo credit: Lucasfilm/ILM
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Essa pressão, não obstante, é o que amarra esse impulso criativo. E aí são as lutas contra os padrões. Cuja lógica muitas vezes é datada pelo resultado das bilheterias e aceitação do público. As próprias protagonistas femininas são reflexo inconteste disso. São importantes como elementos de representação, e podem ser potencialmente trabalhadas enquanto índice das questões de nosso tempo.

Mas se complexificam quando entoadas dentro de uma engrenagem que o cinema industrial representa no mais das vezes surgem sob a sombra de uma imposição ideológica. Uma personagem como Lady Furiosa (Mad Max Estrada da Fúria) se justifica pelas suas questões bastante definidas. Uma personagem como Rey, não.

E se falamos dos traços potencializados do longa, vale lembrarmos a questão do uso em cenários reais. Elemento de aproximação do espectador com a obra, e que gera empatia pelo uso moderado do CGI (computação gráfica) em função de uma narrativa que busca esse tom mais naturalista que passa a ser um positivo padrão retomado das obras dos anos 1970 a 1980.

E se falamos dos traços potencializados do longa, vale lembrarmos a questão do uso em cenários reais

Mas apesar da nossa insana busca por vetorizar qualquer fala sobre o que Star Wars pode representar, façamos o seguinte: deixemos que apenas o filme nos guie. Sim. Já que inegável é a relevância da criação de George Lucas para aquilo o que conhecemos como a ficção científica de aventura dos últimos 50 anos.

Assim como o universo e todos esses fantásticos personagens que em distintas escalas nos ajudaram e ajudam na modulação sadia do nosso imaginário ao longo de tantas e tantas décadas.  Vida longa e próspera a todas essas estórias que Star Wars ainda nos tem a contar.

 

1 – Na cinematografia, o conceito de Deus Ex-Machina diz respeito a um evento que ocorre na narrativa sem uma explicação lógica ou razoavelmente explicável dentro até mesmo da própria narrativa filmica.

FICHA TÉCNICA

Título Original: Rogue One: A Star Wars Story

Tempo de Duração: 133 minutos

Ano de Lançamento (EUA): 2016

Gênero: Fiçção Científica, Aventura

Direção: Gareth Edwards

Daniel Araújo

Crítico de Cinema, Realizador Audiovisual, e Jornalista.

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Crítico de Cinema, Realizador Audiovisual, e Jornalista.