O professor norte-americano John Cochrane divulgou e defendeu sua teoria de que a prática continuada de juros altos praticada por bancos centrais na gestão da dívida pública ao invés de baixar a taxa de inflação, acaba contribuindo para elevá-la. O economista brasileiro André Lara Resende escreve e publica no jornal Valor um artigo colocando a questão na realidade brasileira, onde o Banco Central pratica juro alto como panacéia desde os anos 1990, sem trégua. E a inflação só cai a custa de recessão, choques e planos.
Imediatamente, os economistas Samuel Pessôa e Marcos Lisboa se contrapõem à teoria e defendem o Banco Central e a prática sem refresco do juro alto, claro, apontando que o Brasil, como diria Pascal, tem razões que a própria razão desconhece. Outros economistas entram no debate, como Luiz Gonzaga Belluzzo, Luciano Coutinho, Nelson Barbosa, Eduardo Loyo, Francisco Lopes.
É preciso saudar a ação jornalística do “Valor”, que foi uma parceria da Folha de S. Paulo e do O Globo, e hoje pertence apenas ao O Globo (em crise financeira, a Folha vendeu ano passado suas ações). Mesmo que os veículos globais não sejam caracterizados pelo debate – na verdade a rede Globo costuma ser reconhecida por investir sempre numa versão única, aquela que combina com suas próprias convicções, ignorando ou atacando os que dela divergem – o seu jornal especializado em negócios dá um exemplo de que há vida inteligente e civilizada ainda entre os economistas brasileiros. E que não há uma versão única a ser engolida por todos. Parabéns à equipe do jornal Valor.
Para os economistas, espera-se que a iniciativa lhes sirva de lição e ensine que esse consenso raso e tolo que só interessa ao mercado financeiro sofra alguma crítica, seja objeto de algum debate, que a economia seja mais parecida com ciência do que com uma religião fanática.
De se lamentar é o fato de que o debate só se faz depois de quase trinta anos de desperdício monumental de dinheiro público com juros desnecessários e quase criminosos – trilhões de reais. De se lamentar é que o Banco Central assista ao debate calado e de costas, ouvidos moucos, omisso e covarde.
Finalmente, uma palavra aos jornalistas. A imprensa sabe e pode ser menos ingênua, infantil. Ela pode fazer um debate inteligente sobre a realidade, sem perder audiência. Antes que seja tarde.