Eu sou uma empresa que faz negócios com dinheiro, mas você já foi acostumado a me chamar de instituição financeira. Como no Brasil só existe um tipo de instituição financeira mesmo, pode me chamar de banco. Em tese, eu deveria financiar o desenvolvimento, captando dinheiro de quem tem folga e emprestando a quem tem necessidade, e, em troca do risco inerente a essa transação, eu cobraria mais deste do que pago àquele. A diferença entre uma coisa e outra pagaria meus custos e me daria lucro.
Entretanto, nós, os bancos, não gostamos de emprestar, é muito arriscado. Só gostamos de emprestar a quem prova que não precisa e é capaz de dar garantias acima do valor do empréstimo. Podemos fazer isso (emprestar pouco) porque duas operações hoje já nos rendem receita mais que expressiva. Elas estão nas transações com o Banco Central do Brasil e na cobrança de tarifas. Talvez já seja possível dizer que cada correntista de um banco médio paga um salário mínimo por ano só de tarifas básicas. O correntista nem sente, o dinheiro é debitado na sua conta corrente em pequenas gotas mensais. Quanto às transações com o Banco Central, elas se dão no âmbito da complexidade das operações de câmbio e de rolagem da dívida pública. Ninguém explica, ninguém entende mesmo.
Segundo a revista Exame, na edição de ‘Melhores e Maiores’ do ano passado, os três maiores bancos faturaram mais de meio trilhão de reais, exatos quinhentos e vinte e cinco bilhões. Segundo o jornal O Globo, a conta de juros e serviço da dívida do Tesouro, administrada pelo Banco Central do Brasil, também ano passado, foi de seiscentos e dez bilhões.
Crise? Que crise?