Precisamos falar de QSP…Parte 7 – por Osvaldo Euclides

Se o próprio poder executivo não tem sistemas regulares de avaliação da qualidade da prestação de serviços públicos, então cabe a terceiros exercerem este papel, admitindo-se que captar dados, medir desempenho e monitorar tendências é a única maneira de efetivamente administrar. Se não há informação, não pode haver decisão. Se a informação é errada, a decisão será errada. Citando Deming, “˜não se pode gerir o que não se pode medir”.

Se os vereadores e deputados também não cumprem seu papel de fiscalizar os serviços públicos e seu nível de qualidade, às vezes até por justificadas razões, inclusive pelo bloqueio que lhes opõem o prefeito e o governador, então há que surgir alguém que se disponha a fazê-lo.

Se a imprensa, que tem uma excepcional capilaridade nos dois sentidos (para captar e para transmitir informações), também não está disposta ou interessada em fazê-lo por inúmeras razões, a maioria delas plenamente justificadas, a fiscalização da qualidade dos serviços públicos não pode ficar eternamente a esperar.

Algumas outras instituições poderiam fazer ou contribuir com a avaliação da qualidade dos serviços públicos.

Iniciativas empresariais especializadas, como Ibope e Datafolha têm estrutura e credibilidade, poderiam fazê-lo e dariam enorme contribuição. Meses atrás, o GPTW ofereceu ao prefeito de São Paulo, a custo inferior a dois milhões de reais, uma avaliação anual profunda da satisfação e da motivação das dezenas de milhares de servidores do município, num processo criterioso e consistente.

Pensando em propostas mais parcimoniosas, por exemplo, os sindicatos dos servidores públicos poderiam agir em parceria ou diretamente. Eles deveriam ter enorme interesse em abrir o olho da população para a questão. E, como se diz na rua, “botar o dedo dentro”. Os servidores, normalmente acusados de serem os principais responsáveis pela alegada baixa qualidade, teriam, certamente, muito a ganhar se a questão ganhasse espaço no debate público consequente, com base em dados e fatos, e não em velhos estigmas.

As entidades empresariais sofrem expressivas perdas de produtividade porque seus empregados não têm um transporte público pontual, rápido e confortável. Há um prejuízo incalculável causado às empresas pelo absenteísmo causado por tragédias anunciadas e intermináveis como a dengue, a chicungunha e a zika, todas evitáveis, ou pelo menos controláveis em níveis muito inferiores aos atuais. O Sesi – Serviço Social da Indústria, em sua página na internet, define como sua missão institucional adotar ações que promovam “a qualidade de vida do trabalhador e de seus dependentes”.

Evidentemente, todos ganhariam com a qualidade dos serviços públicos. E não ganhariam pouco. Por tudo isso é de estranhar que essas organizações e outras (como associações de moradores, entidades que congregam favelas, instituições religiosas, associações de organizações de terceiro setor…) evitem o assunto, adiem o enfrentamento da questão para um momento qualquer no futuro. Esta não é uma questão política, não tem qualquer preferência partidária, não tem nenhum viés ideológico (centro, esquerda ou direita).

O problema da qualidade dos serviços públicos pertence a todos, como se vê. Enfrentar o problema cabe a todos, como se sabe. Prefeitos e governadores podem estar esperando a atenção e o interesse da sociedade para reagir e agir. Ninguém espera passes de mágica e soluções de curtíssimo prazo. Abrir a questão e colocá-la em dados e fatos, entretanto, já será um bom começo.

Precisamos falar de QSP. Ainda.

Osvaldo Euclides de Araújo

Osvaldo Euclides de Araújo tem graduação em Economia e mestrado em Administração, foi gestor de empresas e professor universitário. É escritor e coordenador geral do Segunda Opinião.

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Osvaldo Euclides de Araújo

Osvaldo Euclides de Araújo tem graduação em Economia e mestrado em Administração, foi gestor de empresas e professor universitário. É escritor e coordenador geral do Segunda Opinião.