Precisamos falar de QSP…(Parte 6) por Osvaldo Euclides

Fornecer informação e formar a opinião pública. Estas são as funções tradicionais da imprensa. Mas a imprensa jamais ficou confortável nos exatos termos desta definição. Aqui e ali, a depender das possibilidades e das circunstâncias, inclusive seus próprios limites de capacidade e talento, assumiu e cumpriu inúmeros outros papéis. Transmitir ou combater valores, vigiar o poder público, defender os interesses da população ou do Estado, apoiar e derrubar candidatos, partidos e governos, veicular a propaganda, educar os cidadãos, analisar e propor ideias e projetos, como se tudo isso coubesse nas duas funções iniciais. À medida que o tempo passou, a imprensa cresceu, concentrou-se, profissionalizou-se, industrializou-se, ampliou seu poder. Por fim, virou ela mesmo um poder, eventualmente amado, temido ou respeitado pelos outros.

Essa expansão da imprensa exigiu o fortalecimento das empresas de comunicação que lhes dão suporte. A nova dimensão institucional e empresarial colocou-as na condição de bem atender às necessidades e desejos de seus maiores e melhores clientes. Seus grandes e permanentes clientes costumam ser as firmas de grande porte e o próprio poder público.

Na relação com o poder público a via é dupla. O poder público (com destaque para o executivo federal, estadual, municipal, as estatais) é simultaneamente fonte de informação e fonte de receita. Nos dois casos, a principal fonte, quase invariavelmente. Trata-se de um caso de conflito de interesses a ser bem ou mal administrado. Conflito evidente para os dois lados da mesa, o poder público e a imprensa.

De tempos em tempos, a imprensa entra em crise. Essas mudanças negativas costumam provocar danos em algumas empresas e, curiosamente, avanços em outras. A parte técnica e humana costuma ser a que mais sofre perdas. Muitos talentos se perdem nas trocas de salários altos por salários baixos, de profissionais experientes por jovens promessas.

Há tanto a dizer sobre essa delicada área empresarial…mas, fiquemos por aqui.

O fato é que a imprensa tem tido dificuldade, se não for desinteresse, de prestar uma enorme e decisiva colaboração ao poder público e ao cidadão na fiscalização consistente, coordenada e contínua da qualidade do serviço público, mesmo que não haja nada mais importante, considerando-se os temas permanentes de sua pauta. Ficam os jornais, as rádios e as televisões presas a assuntos rasos, meramente circunstanciais. Alguns até de algum impacto, mas desarticulados, irrelevantes

A imprensa nunca teve a qualidade do serviço público como prioridade. As televisões e as rádios parecem ser, por natureza, forçadas à superficialidade, às notícias e análises curtas, rápidas. Jornais e revistas não são lidos diretamente por mais do que um ou dois por cento da população (considerando-se neste cálculo  os que pagam para ler). Assim, aqueles dois (rádio e TV) não se sentem sequer tentados a essa prioridade, embora, por serem gratuitos e acessíveis, atinjam potencialmente quase 100 por cento da população. O público de jornais e revistas é proporcionalmente pequeno.

E jornais e revistas não fazem jornalismo para a população, não defendem o real  interesse da grande maioria da população  Fazem jornalismo para seus anunciantes (e assinantes, quando muito). Caem estes dois veículos no Efeito Tostines (vende mais porque é fresquinho ou é fresquinho porque vende mais?).

Os jornais e revistas vendem poucos exemplares porque não atendem aos interesses da população ou não atendem aos interesses da população porque esta não é sua cliente?

Precisamos voltar a falar de QSP., vocês não acham?

Osvaldo Euclides de Araújo

Osvaldo Euclides de Araújo tem graduação em Economia e mestrado em Administração, foi gestor de empresas e professor universitário. É escritor e coordenador geral do Segunda Opinião.

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Osvaldo Euclides de Araújo

Osvaldo Euclides de Araújo tem graduação em Economia e mestrado em Administração, foi gestor de empresas e professor universitário. É escritor e coordenador geral do Segunda Opinião.