A plantinha tenra da operação lava-jato, por Capablanca

Bastou cair um avião matando um dos onze ministros e uma pane geral se instalou na operação lava-jato. Isso aponta uma fragilidade imensa da operação, ao indicar que ela parece funcionar de forma especial, excepcional, quando se desejaria que ela tivesse a consistência e a normalidade de uma ação institucional.

O fato sugere que a operação tem dependência de pessoas e não de processos (agora se sabe que não depende só do juiz Sergio Moro, pode-se admitir que ela também depende do procurador Rodrigo Janot, sem desmerecer o procurador coordenador Deltan Dalagnol), há um tom personalista, um estilo.

Aliás, a própria operação e seus membros, aqui e ali, pedem o apoio da população, algo estranho e descabido para um processo judicial. E esse pedido de apoio sempre se faz de forma focada em pessoas (e não é exceção a campanha do Ministério Público para colher assinaturas para um pacote de leis). E a imprensa tradicional tem mantido o pleno suporte com o prestígio das manchetes, o lubrificante do comentário gentil dos âncoras e a simpatia dos analistas, sejam econômicos, políticos, jurídicos, empresariais. E se esse apoio da imprensa faltar?

Quem torce mesmo e com clara convicção pelo país e contra a corrupção teme que a operação seja passageira e deixe apenas lembranças, boas para alguns, desastrosas para outros. Afinal, o que vai mudar ou o que já mudou nas relações das prefeituras, governos estaduais e federal com os empreiteiros e outros prestadores de serviços? O que mudou na legislação de licitações? E o que mudou mesmo nas estatais lá no nível onde se tomam as decisões e as coisas se põem a andar? O que mudou para valer no processo eleitoral que leva os candidatos a vencer a disputa por votos? O que mudou nas regras do jogo político? O que mudou permanentemente no processo judicial?

Enfim, o que mudou depois da operação lava-jato e se tornou irreversível?

Se a sua resposta apontar para o fato de que, depois da operação, o país não será o mesmo, que os corruptos vão sentir medo, que os corruptores vão recuar, que a população vai estar atenta, que a impunidade foi ferida de morte, bem, se a sua resposta for apenas isso, mesmo que nela haja alguma verdade, há mesmo que temer que só fiquem lembranças da operação lava-jato.

Capablanca

Ernesto Luís “Capablanca”, ou simplesmente “Capablanca” (homenagem ao jogador de xadrez) nascido em 1955, desde jovem dedica-se a trabalhar em ONGs com atuação em projetos sociais nas periferias de grandes cidades; não tem formação superior, diz que conhece metade do Brasil e o “que importa” na América do Sul, é colaborador regular de jornais comunitários. Declara-se um progressista,mas decepcionou-se com as experiências políticas e diz que atua na internet de várias formas.

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Ernesto Luís “Capablanca”, ou simplesmente “Capablanca” (homenagem ao jogador de xadrez) nascido em 1955, desde jovem dedica-se a trabalhar em ONGs com atuação em projetos sociais nas periferias de grandes cidades; não tem formação superior, diz que conhece metade do Brasil e o “que importa” na América do Sul, é colaborador regular de jornais comunitários. Declara-se um progressista,mas decepcionou-se com as experiências políticas e diz que atua na internet de várias formas.

1 comentário

  1. Francisco Luciano Gonçalves Moreira

    Talvez resida aí o sério risco de a operação assumir o sentido pleno da expressão que popularmente a identifica: “lava jato”. Propõe-se revolver toda a sujeira acumulada de uns tempos pra cá, sem assegurar, contudo, que novas ondas lamacentas não voltem a emporcalhar a “coisa” que ora se pretende tornar limpa. Utopia é, a meu ver, acreditar que um dia esses processos se deem de forma diversa. Coisas de Brasil, ou melhor, de brasileiros. Infelizmente.