Para exigir sacrifício é preciso dar o exemplo, por Haroldo Araújo

A mudança de rumos na política da equipe econômica decorre da falta de sensibilidade ou conhecimentos técnicos aos senhores parlamentares que parecem estar num mundo da fantasia. Eles não foram capazes de perceber que não havia opções alternativas ao que se constituía uma complementação de medidas ao projeto denominado Teto de Gastos Públicos. Os projetos enviados ao Congresso são desfigurados e perdem a função a que se destinavam originalmente cumprir. Atribuo à falta de entendimento da real situação do Brasil.

Exemplo evidente é o do REFIS em que se previa arrecadação de R$ 13,3 Bilhões e com as alterações sofridas o governo vai se contentar com R$ 420 milhões neste ano de 2017, quando enfrenta elevados déficits com o comprometimento da meta fiscal estabelecida de Déficit de nada menos que R$ 139 Bilhões. Diante dos fatos que comprovam a continuidade dos reais problemas decorrentes da recessão, assim foi a queda da receita e sem a consequente redução das despesas, desenham-se novos rumos na política para a obtenção da meta de redução do déficit previsto e com ameaça de seu descumprimento.

Se o problema residisse tão somente na constatação do rombo fiscal, seria plausível que fossem adaptados ajustes para recuperação em maior prazo, mas não é assim e suas repercussões negativas não são só internamente! Se os desdobramentos do problema fossem questões exclusivamente orçamentárias, poder-se-ia pensar em alterar os contornos desse plano de recuperação fiscal pela via de ajustes nas propostas recebidas. A solução decorre de problemas de maior profundidade como são evidentes as mudanças na proposta de Reforma da Previdência (por exemplo). Há uma visível disputa pelo poder em 2018 e o olho está no eleitor.

Acontece que o componente da falta de implementação das políticas complementares para a redução das despesas se torna bem mais importante na vertente da credibilidade do atual governo, principalmente lá fora. Os senhores parlamentares não devem saber disso e se sabem não estão agindo com responsabilidade que o problema demanda de nossos representantes. Essa birra custa muito caro a todos os brasileiros. Prova maior é a proposta para o aumento da carga tributária sobre combustíveis pela via do aumento da contribuição do PIS/ COFINS. Todos sabemos da importância do preço dos combustíveis na cadeia produtiva. Nós vamos pagar o pato.

A sorte está do lado do governo porque há uma evidente redução da inflação e com redução dos negócios, poucos se aventurariam a promover reajustes de preços com essa nova alíquota. Minha advertência é para que fiquem de olho nas planilhas. Senhores políticos em geral atentem para os riscos da política de aumento de impostos com a finalidade de cobrir déficits. Por que não se conscientizam da necessidade de ampliar o sacrifício de reduzir as despesas para dentro do Governo em cada ministério.

Os Senhores ministros entenderam também que deverão contingenciar ou cortar seis bilhões (R$ 6 BI) do Orçamento para fechar as contas. Sacrifício só para os outros poderes, mas não encaram com seriedade o que poderá ser feito internamente, a exemplo de milhares de cargos em comissão e de confiança, acumulações e até promover severa austeridade nas despesas correntes. Para exigir sacrifício é preciso começar dando exemplo no âmbito dos três poderes.

Haroldo Araujo

Funcionário público aposentado.

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