O próximo presidente do Banco Central do Brasil – III – por Osvaldo Euclides

O futuro presidente do Banco Central do Brasil terá um papel importante no que vai acontecer com a economia brasileira, a depender de quem o escolha, a depender de a que critérios obedeça esta escolha e a depender de ajustes institucionais no Banco (leiam-se suas funções, suas missões).

Começando do fim. Se o BC brasileiro ficar responsável apenas pela inflação (ao contrário dos países mais modernos, onde os bancos centrais cuidam também do crescimento da economia e da taxa de desemprego), podemos muito provavelmente ter mais do mesmo. Ou seja, juro real alto, extremamente alto, inexplicavelmente alto, uma desproporção. Vejam: o mundo inteiro anda hoje com taxa real para os títulos públicos em torno de zero, o Brasil anda em torno de 7 por cento.

Discutindo quem o escolhe. Qualquer presidente da República escolhido entre os mais liberais, entre o centro e a direita, tenderá a manter tudo como está e até mesmo legislar para a independência do Banco Central, ou seja, controle social zero, controle absoluto do “mercado”. Um candidato de esquerda também dificilmente terá coragem de fazer reformas profundas, mas é onde restam algumas esperanças de mudança.

Sobra a possível definição de algum critério mais equilibrado e racional para a seleção do presidente do BC, quem sabe surge de um movimento de dentro do próprio Banco. Que tal um ponto de equilíbrio entre controle social e aceitação do mercado? O presidente do BC seria indicado pelo presidente da República entre os profissionais de carreira do próprio BC, mas com mandato descasado do prazo do mandato do presidente da República. Nesse caso, modificações no Comitê de Política Monetária poderiam ser produtivas, se a sua composição representasse melhor a economia e o país, e não só o sistema bancário.

Nesse novo contexto, seria importante que as funções institucionais do BC fossem revistas e ampliadas, colocando-o em linha com o que é mais moderno e coerente, ou seja, ter metas também para o crescimento da economia e da taxa de desemprego. Nesta hipótese, o sistema bancário perde poder, mas todos os demais empresários podem ganhar em qualidade da gestão do país.

O problema é simples e é fácil de identificar a solução. O que impede essa solução é a força desproporcional dos sistemas financeiros do mundo inteiro, que absorveram todo o poder do discurso empresarial, esvaziando as lideranças industriais e comerciais. Só assim teremos uma economia que estimula o investimento e a produção, o comércio e a indústria, o empreendedorismo e o capitalismo como foi há dois séculos e meio originalmente concebido. Só assim, poderemos ter uma gestão da dívida pública mais austera, mais inteligente.

Afinal, o presidente do BC tem comando sobre o maior orçamento da República, os muito pouco fiscalizados quase um trilhão de reais.

Osvaldo Euclides de Araújo

Osvaldo Euclides de Araújo tem graduação em Economia e mestrado em Administração, foi gestor de empresas e professor universitário. É escritor e coordenador geral do Segunda Opinião.

Mais do autor

Osvaldo Euclides de Araújo

Osvaldo Euclides de Araújo tem graduação em Economia e mestrado em Administração, foi gestor de empresas e professor universitário. É escritor e coordenador geral do Segunda Opinião.