O próximo passinho, por Osvaldo Euclides

O Brasil escolheu o pior momento e adotou a pior forma de atrair investimentos estrangeiros especificamente para os negócios empresariais. Cometeu erros que é difícil aceitar que tenham sido casuais ou de boa fé. No rastro de um processo com características ora políticas, ora jurídicas, ora simplesmente midiáticas, terminou por sufocar suas maiores, melhores e mais modernas empresas, como as gigantes empreiteiras (Odebrecht, Camargo Correia, OAS) de engenharia, a estatal de petróleo e suas subsidiárias (Petrobrás, Liquigás, BR Distribuidora) e a maior produtora e exportadora de proteínas do mundo (J & F), por exemplo, torturou-as com a destruição completa de suas imagens e do que lhes restava de confiança, travou o sistema bancário e deixou-as sem oxigênio e sem saída. Estão todas à venda, integral ou parcialmente, de forma apressada. É um desastroso bazar.

O modelo mais inteligente e o mais tradicional é fazer um planejamento estratégico, identificar as áreas de interesse comum possível entre o país e os prováveis investidores, medir, exibir e valorizar as oportunidades (onde o empreendedor nacional não quer ou não pode entrar) e valorizar o tamanho e a potência do mercado interno. Evidentemente, isso não se faz de forma atabalhoada, como quem corre contra algum tipo de relógio, e, por causa disso, termina criando insegurança jurídica que poderá se manifestar adiante.

Se o país comete esse tipo de erro quando atrai o investimento produtivo (gerador de produção, emprego, renda), também o comete quando se trata de fluxo simples de capital entre os mercados financeiros (bolsa, títulos públicos, títulos privados). Não é que o Estado deva intervir e regular minuciosamente os movimentos livres e normais de mercado. Mas cabe estabelecer contornos e limites para evitar solavancos nos mercados locais, que por seu tamanho ínfimo em relação aos grandes aplicadores, pode ser abalado por qualquer mudança brusca de humor. Observem que o país não deveria ter uma gangorra na taxa de câmbio, mas tem. Observe que a bolsa de valores só consegue tendências firmes (de alta ou de baixa) quando o aplicador externo a define. Importante repetir: oscilações são normais e o Estado não precisa intervir de forma exagerada. Mas não deve, também, colocar-se na posição de cego, surdo e mudo aos seus próprios interesses.

O problema da falta de estratégia até poderia ser pequeno em outros momentos e em outras circunstâncias. Mas não é o caso, agora.

A fragilidade política parece que toma o tamanho da fragilidade fiscal ou o contrário: a fragilidade fiscal toma o tamanho da fragilidade política. O fato é que ambas se alimentam e se fortalecem e o drama das empresas para fechar as contas de caixa se expande para o país inteiro. O governo federal só tem olhos para fechar o orçamento fiscal do mês e do ano.

O Brasil está de cabeça baixa, só enxerga o próximo passinho.

Osvaldo Euclides de Araújo

Osvaldo Euclides de Araújo tem graduação em Economia e mestrado em Administração, foi gestor de empresas e professor universitário. É escritor e coordenador geral do Segunda Opinião.

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Osvaldo Euclides de Araújo

Osvaldo Euclides de Araújo tem graduação em Economia e mestrado em Administração, foi gestor de empresas e professor universitário. É escritor e coordenador geral do Segunda Opinião.