O Natal Cristão e os novos Desafios!, por Josênio Parente

Estamos terminando o mês de Novembro e o espírito natalino já começa a incitar o comércio. O Natal da cristandade, comemorando o nascimento de Jesus Cristo, terá nesse momento muito mais significados que a tradicional festa religiosa e mercantil. O Estado Islâmico, com os recentes atentados em Paris, mostrou que a globalização tem uma realidade nova no processo da construção de hegemonias, o pensamento único, que reforça cultivar o valor da tolerância. Como aconteceu na consolidação dos Estados Nacionais, a disputa por um pensamento dominante era um valor a ser conquistado: a hegemonia burguesa ou a construção de blocos históricos, como falava Antonio Gramsci, era disputado com os valores aristocráticos como a tolerância com os diferentes.

Os dilemas produzidos pela globalização para a construção de uma governabilidade são semelhantes àqueles da consolidação dos Estados Nacionais, sendo o mais importante a construção de uma ética a partir de um pacto civilizatório. O encontro de sistemas culturais trazidos para dentro das fronteiras dos Estados nacionais não produziu a guerra de civilizações, mais introduziu maior complexidade aos dilemas democráticos., pois sendo pactuados, fortalecem relações multilaterais para uma ética não imperial.

Se o século XXI não eliminou a luta de classe, típica e radical no século XIX, domesticada no século XX a partir da consolidação do Estado Nacional quando aliada a uma economia de mercado, as consequências do conflito cultural tem produzido uma maior complexidade para o desenvolvimento da democracia. O radicalismo do Estado Islâmico é apenas um retrato dessa nova realidade que, simbolicamente, chega ao Ocidente próximo às festas natalinas.

No Brasil, o dilema da construção tardia de um Estado Nacional aliada a uma economia de mercado também é a problemática da governabilidade com ética. Esse dilema foi agravado no segundo governo Dilma que perdeu a liderança de uma base aliada necessária para realizar um ajuste fiscal e recolocar o Brasil na rota de um mundo cada vez mais globalizado pelo mercado.

O dilema brasileiro fica mais claro quando o impeachement entra na pauta: o da Presidente Dilma Rousseff, orientado pelo Presidente do Congresso, Eduardo Cunha, do PMDB carioca, que seduziu toda a oposição, e o impeachement do próprio Eduardo Cunha, “pego com a mão na botija”, como se diz do Nordeste, quando os fatos contradizem com a realidade. A ética era só aparência!

O PT, que tem governado nos últimos 13 anos com uma política de inclusão social sofre as consequências de não ter fortalecido partidos políticos representativos. PT e PSDB foram os partidos que lideraram a política brasileira nessa fase que se inicia com a redemocratização, estão entre os grandes partidos, mas tem a concorrência de pequenos partidos que cresceram também nesse embate. A sociedade brasileira, com dimensões continentais e uma diversidade cultura e regional, dificulta a consolidação do processo de representação pela via partidária.

Outro partido emblemático desse processo é o PMDB, Cresceu numericamente, mas não conseguiu um projeto para o Brasil de interesse de classe. Opa! Esta semana o PMDB pareceu inovar lançando um projeto liberal para se contrapor ao Ptismo uma vez que o PSDB, neste mandato, tem falhado na ocupação desse espaço e outros partidos, por mais que se esforçassem, não conseguiram o intento.

Nessa crise, a oposição, representada pelo PSDB e o DEM, colocou o impeachement e a desestabilização como pauta única nesse primeiro ano do governo Dilma. O vice-presidente Michel Temer, como constitucionalista, não caiu nessa armadilha conspiratória, pois sabia que poderia, muito provavelmente, ser engolido pelo processo. O lançamento do programa do PMDB foi apenas um recado ao empresariado que, caso chegasse ao poder, não os iria decepcionar.

O Natal deste ano traz significados que ultrapassam ao sentido religioso e laico dado pelo mundo ocidental. Novos valores se apresentam a partir do desafio da globalização e da construção de nova ordem mundial. A tolerância com os diferentes, o foco que Alex Tocquevile, no século XIX, já vislumbrava, se fortalece. Ele é um aristocrata, liberal conservador, humanizando o mundo burguês e que agora passa a batuta para o Papa Francisco, que tem responsabilizado o domínio da lógica do mercado no mundo globalizado aos efeitos do aquecimento global. Vamos em frente!

 

Josenio Parente

Cientista político, professor da UECE e UFC, coordenador do grupo de pesquisa Democracia e Globalização do CNPQ.

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Josenio Parente

Cientista político, professor da UECE e UFC, coordenador do grupo de pesquisa Democracia e Globalização do CNPQ.