É o espírito pragmático e cirúrgico dos empresários que estabelece o tom e o estilo das suas relações com os governantes, com os parlamentares e com os juízes. Essas relações paralelas sempre ajudaram nos negócios, lubrificando-os, fazendo-os fluir melhor, mais rápido. Sempre foram, digamos, marginais, ou se postavam na linha limite entre o legal e o ilegal.
No começo não faltavam as festinhas com fartura de bebidas e companhias de jovens de rara beleza. Também havia as viagens, com a família ou não, mas com tudo pago, a partir da hospedagens em hotéis de cinco ou seis estrelas. Ou o empréstimo de casas na praia ou na serra para fins de semana prolongados. Na medida em que aconteciam os problemas posteriores, algumas práticas foram sendo abandonadas, substituídas, seja por escolha dos empresários, seja por opção dos homens públicos, já que as histórias invariavelmente vazavam, e criavam problemas para uns e outros.
Depois vieram os jatinhos, uma maneira de mostrar poder, diferenciar-se e atestar prestígio, um charme. Mas, não demorou e veio a solução mais simples e direta, sem rodeios: o caixa dois, financiamento partidário, contribuição para a campanha, propina, chame como quiser. Em dinheiro, em moeda local ou em moeda forte, em espécie ou depósito bancário, no país ou no exterior, em praças tradicionais ou em paraísos fiscais.
O fato é que os empresários que produzem bens ou oferecem serviços de uso coletivo, adquiridos diretamente ou não pelo poder público, regulados ou não diretamente pelo poder público, assim como os empresários de grande porte, sempre tiveram clareza de que é preciso superar a burocracia, o formalismo e as resistências da máquina administrativa para fazer os processos andarem em bom ritmo. Isso valeu sempre para os três poderes, claro, com um dos poderes se destacando conforme as características do negócio.
Os acontecimentos recentes na vida pública trouxeram uma complicação para os homens de negócio. Alguns consultores se anteciparam a estes problemas e algumas empresas se protegeram, fazendo programas internos e preventivos de “compliance”, para antecipar-se a problemas no futuro por causa dos atos marginais do passado. Isso continua valendo e quem ainda não fez que o faça.
Entretanto, a questão é: o que fazer para manter vínculos e relações com o poder público? Há opções variadas. Uma delas, certamente, será um esforço de lobby junto ao Congresso para regulamentar as atividades de lobby. Outra opção é fortalecer ou implantar as velhas estruturas de relações públicas, cercando-as, claro, de cuidados legais. Outra estratégia é manter-se profundamente informado sobre o que está sendo estudado nas entidades de pesquisa, o que está sendo debatido e proposto no parlamento e o que acontece mundo afora. Nessa estratégia, manter-se informado sobre a máquina pública é fundamental.
Os empresários devem abrir bem os olhos, mas não devem cruzar os braços.