O presidente da República acaba de dizer que “daqui a uns três anos” vai controlar a dívida pública, secundando um de seus ministros que disse que a dívida “é incontrolável”. Estranho, para dizer o mínimo, porque em termos relativos a dívida é pequena. Arredondando o valor da dívida líquida para 3 trilhões de reais (pouco mais de um terço do PIB), temos que cada 1 por cento da taxa Selic, nível de juros que o Banco Central define a cada 45 dias, representa 30 bilhões de reais.
Se o Banco Central baixar o juro, economiza 30 bilhões de reais a cada 1 por cento. E ainda dizem que não há alternativas à PEC 241.
Nesta quarta-feira, antes do Jornal Nacional, claro, o Banco Central divulgará a nova taxa Selic. Estava tudo pronto para o juro ficar em 14,25% ao ano, taxa alta, altíssima, inexplicável, inaceitável. E o argumento era de que a inflação ainda era uma ameaça. E que, apesar de tudo estar melhorando (sic), o juro só cairia depois que se resolvesse a questão fiscal.
Como a proposta do governo é que a questão fiscal seja resolvida em 20 anos, com a PEC do Teto 241, pode-se entender, que a taxa Selic demoraria muito a cair, talvez 20 anos.
Mas por que o Banco Central está nu?
Simples.
Primeiro porque a inflação que levou o juro para 14,25% ao ano estava em redondos 11% ao ano, ainda era Dilma, em 2015. E inflação em um ano já caiu para abaixo de 9% ao ano.
Segundo, porque o próprio mercado prevê que a inflação deste ano ficará em torno (possivelmente abaixo) de 7 por cento.
Terceiro, porque na semana passada um dos índices de inflação mensal veio encostado em zero. Sim, zero, quase. E o próximo índice, a ser divulgado em menos de uma semana, também se espera encostado em zero, ou, talvez, até abaixo de zero, ou seja, negativo, deflação.
Quarto, porque se ele cortar a taxa em 3 por cento, haverá uma economia em um ano de quase 90 bilhões de reais, e isto seria uma medida tecnicamente justificável, tecnicamente perfeita.
Quinto, a taxa de juros alta só se aplica como forma de combate ao aumento de preços quando a inflação é de demanda. Até as pedras sabem que no momento não há inflação de demanda. Os empresários estão com água no nariz, quietos e calados, vendas caindo.
Sexto, admite-se que o Banco Central não é funcionalmente obrigado a zelar pelo nível de emprego e de crescimento da economia, mas ignorar os 22,7 milhões de desempregados e subempregados é insensato, para dizer pouco.
Sétimo, a queda das taxas de juros forte e vigorosa agora poderia ajudar na recuperação econômica e na recuperação da arrecadação de impostos que tanto pressiona o déficit fiscal, mesmo que o crescimento e a arrecadação também não sejam funções do BC.
E, por último, mas não menos importante, essa uma medida que ajudaria o Brasil (será isto função do BC?) e, por tabela e por coincidência, ajudaria também a sustentar o atual presidente.
Como se vê, o Banco Central está nu. E de forma também estranha os economistas e jornalistas “de mercado” estimam a queda da taxa em apenas 0,5%. O BC está nu e amanhã vai desfilar.