A nossa liberdade e a dos outros, por Gilvan Mendes

A palavra da moda é liberdade. Com a derrocada política e ideológica do PT, grupos liberais e conservadores estão redefinindo os debates públicos no país atualmente, e a ideia de que o indivíduo deve ser livre de irrestritamente ganhou força. Entretanto, esse discurso parece se consolidar somente no plano ideal, na realidade social brasileira vivemos a lógica contrária. Tanto conservadores, quanto progressistas acreditam que a liberdade ”boa” é a sua, a do outro deve ser anulada. Esse tipo de comportamento longe de ficar apenas nos debates das redes sociais, infelizmente, está dominando o cenário político brasileiro, colocando em perigo valores como tolerância e respeito. 

Na última sexta-feira (10/11) a filósofa Judith Butler foi agredida verbalmente no Aeroporto de Congonhas em São Paulo. Conhecida por suas teorias sobre identidade de gênero e sexualidade, a escritora foi xingada verbalmente por grupos que se dizem preocupados com a família tradicional e os bons costumes. Segundos esses detratores, a ideias da autora devem ser silenciadas em favor de uma certa moral cristã e conservadora, até de ”bruxa” a americana foi chamada pelos manifestantes. O caso só esclarece o quanto certos grupos de direita no Brasil detestam a liberdade de expressão e a ”audácia” de certas pessoas de discordarem de suas visões de mundo.  

O lado progressista também comete seus atos de intolerância. Em junho desse ano a jornalista Miriam Leitão foi hostilizaddentro de um voo que ia de Brasília para o Rio de Janeiro por partidários petistas. A comentarista política da Globo é conhecida por fazer críticas aos governos passados do PT. Nada que justifica esse tipo de abordagem. Nas universidades é comum ver autores serem considerados ”reacionários” e ”direitistas” antes mesmo de serem avaliados pela leitura de suas obras. Dificuldade de aceitar a liberdade de expressão e a pluralidade humana é uma chaga tanto de conservadores e liberais quanto de progressistas. Temer pelo futuro da democracia é algo plausível nessa conjuntura. 

John Stuart Mill faz uma apaixonada defesa da liberdade de expressão e da tolerância em seu texto ”Sobre a liberdade”. Se visse certas manifestações de intolerância e fanatismo que estão na moda atualmente aqui no nosso país, o filósofo inglês ficaria decepcionado. Será mesmo que a truculência irá vencer o respeito? A resposta para essa pergunta pode definir os caminhos políticos que vivemos.

Gilvan Mendes Ferreira

Cientista social graduado pelo Universidade Estadual do Ceará-UECE, com interesse nas áreas de Teoria Política , Democracia e Partidos Políticos.

Mais do autor

Gilvan Mendes Ferreira

Cientista social graduado pelo Universidade Estadual do Ceará-UECE, com interesse nas áreas de Teoria Política , Democracia e Partidos Políticos.