A movimentação das peças no tabuleiro explica a política, por Haroldo Araújo

O novo governo brasileiro sabe que a política é dinâmica, frase atribuída a Gonzaga Mota. Acredito que traduzia Ulisses que dizia: “ A política é como as nuvens, você olha e está de um jeito, e alguns instantes depois está tudo mudado”. Então podemos afirmar que os analistas estão falando apenas de um momento, na certeza de que as piores previsões não se confirmarão.

Antes da eleição de Trump nos EUA, os governos de países emergentes ou não já alimentavam expectativas acerca dos rumos camaradas. Agora o cenário mudou e os analistas e articulistas em coro projetam com cautela uma modificação das expectativas não tão otimista para 2017.

Expectativas que vão se confirmar ou não, a depender das inesperadas mudanças estadunidenses. Será que vingarão as ideias de um governante que sabemos promete que estará na contramão da economia dos blocos e da globalização? Aguardamos uma definição: o homem está sendo pressionado a abrir o jogo.

Acho que também estamos mudando nossos rumos. Se o governo americano realmente se propõe a comandar algum protecionismo é o que saberemos em 2017. Por aqui já sabemos que a política e polícia dão as cartas. A Lava Jato desvendou o que já se sabia que existia no mundo inteiro, a exemplo de interferências políticas nas estatais e até a indicação de cargos de comando.

Acontece que a Lava Jato desvendou também a existência de indicações, e de propinas. Isso era sabido que também existe no mundo inteiro e aqui e ali cai um embusteiro mal intencionado por todos os países ocidentais ou não. O que a Lava Jato desvendou diferente foi um grande esquema de autofinanciamento na política. Uma intrincada relação de causa e efeito inimaginável. Empresas doavam e esperavam o benefício em troca de obras públicas.

As empresas privadas, certamente que não todas, destacamos, mas certamente as maiores empreiteiras doadoras de campanhas eleitorais {principalmente} se beneficiavam de esquemas que nasciam em acordos na política. Acredito que o fim dos esquemas foi decretado e trancado no xadrez pelas nossas Instituições (BC, PF, TCU, MP etc.) que não canso de agradecer por tanta vontade de fazer surgir um Brasil melhor e mais justo.

Aonde quero chegar? Michel Temer está diante de um quadro novo na política. Precisa estabelecer ou programar um novo paradigma de gestão pública. O governo atual não sabe o que o Federal Reserve tem reservado para 2017. Portanto explica-se a razão desta indefinição a exemplo das metas econômicas? A Janet Yelen fala em sair, mas objetivo o FED tem e disso ninguém tem dúvida: “A estabilidade econômica”. Lá o BC (deles) cuida também da taxa de desemprego.

Aqui o nosso BC cuida da moeda. A estabilidade econômica será o passo seguinte à estabilidade da moeda. Michel Temer, portanto, se vê diante de um quadro de variáveis exógenas e endógenas. Até as variáveis (exógenas) estão indefinidas, por que ? Porque o FED Federal Reserve ainda não se definiu de forma clara o que pretende fazer com os juros. E nós brasileiros, aqui, teremos que absorver e compatibilizar a definição em termos de política monetária.

Essa política fica à cargo do Banco Central. Como se pode verificar, somente um político muito hábil terá condições de fazer essa travessia que mais parece um tabuleiro de xadrez, em termos de opções e previsões na política e na economia. Os analistas que nada mais fazem do que interpretar a movimentação das peças no tabuleiro estão confusos. Pudera! Os próprios presidentes  estão se acautelando em escolhas de rumos.

Imagine uma nação que precisa de medidas urgentes e precisa se acautelar. Imagine uma nação que precisa tomar medidas antipáticas como são antipáticos os cortes de salários. Sofre as invasões de prédios públicos para pressionar decisões! A exemplo da invasão das nossas casas legislativas? Acho que não podem ser aplaudidas e menos ainda as invasões de prédios públicos como as invasões em todo o território nacional de escolas públicas.

Precisamos de apoio de nossos políticos, empresários, estudantes e povo em geral para que juntos possamos estabelecer rumos e que esses rumos possam ser levados ao Congresso para debate no sentido de que se possa ajudar a fazer essa transição. E por que falo de transição? Porque Ele om próprio Presidente da República está ciente de sua missão. Ciente do que? Ele está ciente de que não comanda o Brasil com fins outros senão o de fazer a “Transição” e nos trazer de volta a estabilidade.

Essa estabilidade é uma missão que ainda não cumprimos e que certamente depende de todos nós brasileiros e de todos os partidos. Acabou o quadro que existia antes de Michel Temer? Sim. Tanto na política quanto na economia o cenário está mudando. Como? Observem a postura do governador do Rio de Janeiro: Ele sabe que a demagogia acabou e agora tem que falar sem contorcionismos a dura realidade. Não há dinheiro para pagar compromissos.

Jamais poderia imaginar um governador falar de forma tão clara e transparente, como nunca dantes se falou neste país. E o que disse? Precisamos da Reforma da Previdência ou o país não vai aguentar. Todos precisam descer do muro o quanto antes assim como faz o governador do Rio de Janeiro. Michel Temer espera as movimentações das peças no tabuleiro para definir propostas e prioridades. Outros governadores irão se pronunciar também.

Isso mesmo um governo de prioridades e cujas prioridades precisam de apoio como o apoio dos Estados Federados. Mais assertividade e menos popularidade. Pés no chão! Outros líderes ficam em cima do muro e já deveriam ter descido! Desçam logo do muro ou será tarde demais para ter o reconhecimento público diante dos desafios que se apresentam na economia e na política.

Haroldo Araujo

Funcionário público aposentado.

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