Ele talvez não tivesse força nos braços para girar as duas rodas de sua cadeira. Menos ainda para subir a cadeira no batente que destacava o professor, à frente da turma. Seu assistente o pôs lá. Não falava alto, não tinha pressa, tinha um sorriso simpático, mas incompleto, talvez um olhar triste, mas vivo e alerta, seus olhos pareciam radares.
Ele criava nomes para as aulas. Aquele dia era o Varal de Ideias. Ele esticou um cordão de uma ponta a outra da sala e disponibilizou pregadores. Os alunos deveriam escrever propostas, projetos ou ideias numa folha de papel e pendurá-las no Varal, depois de brevemente expô-las. Estranho mestre aquele. Os alunos ficaram inicialmente estupefatos, sem palavras. Mas tomaram-se de papel e caneta.
Preparando os alunos, ele contou histórias, enquanto eles se acostumavam com o varal e com a ideia de criar e expor ideias. As histórias que ele contou nessa aula não consigo reproduzir com fidelidade. Mas lembro de conversas antes e depois das aulas.
Como líder do movimento em favor da acessibilidade, Xyco foi convidado para a solenidade de inauguração de um auditório de uma instituição de ensino superior “acessível”. Quando lá chegou e tentou entrar, a porta era estreita, sua cadeira de rodas não passava. Ele assistiu à solenidade da porta, sob os olhares de todos, inclusive as mais altas autoridades. Ele disse que a mensagem foi passada sem que ele dissesse uma palavra.
Outra história.
Como publicitário, aceitou liderar a associação de empresários do setor quando ninguém aceitava esse ônus e quase ninguém acreditava na força da união. E manteve acesa a chama do associativismo até que melhorassem e surgissem os novos líderes. Listou discretamente as duras circunstâncias dessa inglória luta contra muita desinformação e amadorismo, usando uma única arma: a criatividade.
Entre uma história e outra, expunha ideias que ele desenvolveu e pôs em prática. A força e a beleza da propaganda enchiam os olhos e a alma dos alunos.
O tempo passava e o ambiente parecia ir ficando meio caótico. Caótico? Pode ser, se do caos surge a ordem, surge o novo, surgem as ideias. Ele não parecia confortável com aquele burburinho, aquele zumbido, aquela inquietação. Mas segurou a turma até o fim.
Fim da aula. Estava lá o varal. Os alunos romperam a inércia, superaram a timidez, exploraram suas mentes, atuaram como diretores de arte, criadores, planejadores, atendimento, empresários. O varal estava cheio, assim como as mentes e os corações.
Eu estava naquela sala de aula. Deveria tê-la filmado para poder expô-la em toda a sua dimensão. Eu a gravei no meu espírito.
Grande Xyco Theóphylo, publicitário, jornalista, empresário, líder empresarial, cidadão, militante da acessibilidade, professor de marketing e propaganda, mestre da vida.
(Por um de seus alunos)
Mariana Lucena theophilo
Sou filha do xyco e gostaria de saber quem escreveu esse artigo. Queríamos agradecer as palavras
Osvaldo Euclides
Foi um amigo dele, professor da Fanor, que não quis assinar o texto. Foi originalmente publicado há vários anos.