Medo de mostrar as digitais, por Alexandre Aragão de Albuquerque

Estamos em pleno mar!

Numa sessão tumultuada, a Câmara Federal realizou a eleição da Comissão Especial para analisar o pedido de impedimento da presidente Dilma Rousseff.

No dia 25 de novembro passado, o ministro do Supremo Tribunal Federal (STF), Edson Fachin, decidiu que a votação sobe a manutenção da prisão do senador Delcídio do Amaral deveria ser aberta, mesmo se a Mesa do Senado havia se posicionado contrariamente, defendendo o voto secreto. Na decisão, o ministro explicou que o artigo 53 da Constituição não menciona explicitamente a sessão secreta para deliberar sobre o assunto. Ele ainda destaca que o princípio da publicidade deve prevalecer: “Não há liberdade à Casa Legislativa em estabelecer, em seu regimento, o caráter secreto da votação. Em havendo disposição regimental em sentido contrário, sucumbe diante do que estatui a Constituição como regra”.

Hoje a Câmara Federal, mais uma vez, pela atuação do seu presidente Eduardo Cunha, remou contra a maré da Constituição. Segundo o líder do governo deputado José Guimarães, ocorreram pelo menos três ilegalidades no processo de votação de hoje. Em primeiro lugar, uma “ilegalidade política”, na qual foi desrespeitado o acordo dos líderes partidários, por parte de Cunha, ao encaminhar uma “chapa avulsa”. Depois, Guimarães acusou Cunha por não abrir a palavra aos parlamentares para questionarem o sistema de votação e darem seus encaminhamentos: “Não é possível estarmos discutindo um tema tão sério sem que as bancadas possam expressar suas posições. Isso fere as normas do processo democrático”, reclamou. Por último ele falou contra a decisão de Cunha pela adoção sistema secreto de votação, fazendo referência aquilo que ocorreu no Senado Federal em relação a obrigatoriedade constitucional do princípio da publicidade. Por outro lado, a deputada Jandira Feghali comunicou que o seu partido entrou com um pedido de liminar em mandado de segurança no STF contra os procedimentos estipulados pelo presidente Eduardo Cunha.

Diante deste cenário, convém perguntar: de que vale um processo de impeachment construído por debaixo dos panos? Quem ganha com isso? Seria esse obscurantismo uma atitude republicana? Como diz a música de Cecéu, “é por debaixo dos panos” que os mesmos ganham mais. Em matemática, economia ou política, quando uns ganham mais, outros perdem muito. Perde mais uma vez a democracia brasileira pela falta de coragem dos deputados em mostrarem suas digitais.

Alexandre Aragão de Albuquerque

Mestre em Políticas Públicas e Sociedade (UECE). Especialista em Democracia Participativa e Movimentos Sociais (UFMG). Arte-educador (UFPE). Alfabetizador pelo Método Paulo Freire (CNBB). Pesquisador do Grupo Democracia e Globalização (UECE/CNPQ). Autor dos livros: Religião em tempos de bolsofascismo (Independente); Juventude, Educação e Participação Política (Paco Editorial); Para entender o tempo presente (Paco Editorial); Uma escola de comunhão na liberdade (Paco Editorial); Fraternidade e Comunhão: motores da construção de um novo paradigma humano (Editora Casa Leiria) .

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Alexandre Aragão de Albuquerque

Mestre em Políticas Públicas e Sociedade (UECE). Especialista em Democracia Participativa e Movimentos Sociais (UFMG). Arte-educador (UFPE). Alfabetizador pelo Método Paulo Freire (CNBB). Pesquisador do Grupo Democracia e Globalização (UECE/CNPQ). Autor dos livros: Religião em tempos de bolsofascismo (Independente); Juventude, Educação e Participação Política (Paco Editorial); Para entender o tempo presente (Paco Editorial); Uma escola de comunhão na liberdade (Paco Editorial); Fraternidade e Comunhão: motores da construção de um novo paradigma humano (Editora Casa Leiria) .