Trecho da crônica de Luis Fernando Veríssimo desta quinta-feira:
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“A Operação Lava-Jato e a Operação Mãos Limpas na Itália se parecem em poucos pontos, mas são pontos fundamentais. As duas começaram com cavaleiros destemidos dispostos a combater a corrupção em seu país — o procurador Di Prieto lá, o juiz Moro aqui. Nos dois casos, algumas leis foram, digamos, dribladas para tocar os processos. Moro levou ligeira vantagem sobre Di Prieto no quesito fins que justificam meios.
(…)
Na Itália, houve suicídios de envolvidos em escândalos denunciados pela Mãos Limpas. Aqui o único suicídio provocado pela Lava-Jato foi o de um inocente injustamente acusado. O que a Mãos Limpas e a Lava-Jato têm indiscutivelmente em comum é que, na busca por uma moral absoluta, desnudaram mais do que esquemas de corrupção e de bandidagem corporativa, fizeram — sem querer — retratos de corpo inteiro do capitalismo de compadres em vigor nos seus países. Itália e Brasil têm a mesma história de sociedades dominadas por sistemas excludentes de poder que se fecham contra qualquer ameaça de mudança. Não cabe dizer que na Itália é pior porque lá tem o complicador da máfia. Nós também temos máfias, que só não ousam dizer seu nome.”