E quanto a José de Alencar? O que o senhor pode nos dizer a respeito dele?
Tendo a preocupação constante de formação de uma literatura nacional, José de Alencar preparou-se para contribuir para ela. Alencar estudou com afinco os velhos historiadores e cronistas; procurou conhecer os costumes dos selvagens, o viver dos colonos, da classe dirigente, dos escravos… Durante um curto período de vinte e cinco anos (de 1857 a 1877) Alencar produziu toda a sua obra, prodigiosa de raptos de eloquência e de fulgurações de estilo. Pode-se dizer que não ficou recanto de nosso viver histórico-social em que ele não tivesse lançado um raio de seu espírito.
A excelência de Alencar como romancista não pode ser colocada em dúvida, mas o senhor o considera um bom dramaturgo?
O dramatista em Mãe e em O Jesuíta tomou posto entre os mais distintos escritores desse gênero, não já da língua portuguesa, como da literatura universal. Ali existem cenas que atingem as alturas da verdadeira emoção dramática. Aquela em que a escrava Joana, no auge do desespero, se envenena para que não se saiba que ela é a mãe de Jorge, um jovem formado em medicina, e não se lhe desfaça o casamento com Elisa, que não se quereria ligar provavelmente a um filho de escrava, é uma dessas. Aquele brado que nega resoluta e firmemente e ao mesmo tempo inconscientemente afirma: “Eu não… Eu não sou a tua mãe, não… Meu filho!…” é um rapto de perfeição artística que chega às grandes emoções.
)Trecho de texto da jornalista Camila Nogueira, citando o crítico literário Silvio Romero (1851-1914) no Diário do Centro do Mundo)