A condenação em segunda instância do ex-presidente Lula no TRF-4 de Porto Alegre representou um forte baque para o PT e para a esquerda brasileira, além de simbolizar uma expressiva vitória política para a operação Lava-Jato. A defesa de Lula irá tentar recorrer e lutar na Justiça o máximo possível, e os petistas até mesmo o lançaram como pré-candidato oficial da sigla. Entretanto, com o desenrolar dos acontecimentos recentes, o mais plausível é que nomes de ”segundo escalão” do partido como Fernando Haddad e Jacques Wagner ocupem o espaço de Lula. Nessa conjuntura, um nome que pode se apresentar como uma razoável opção de voto para os antigos eleitores do lulismo é Ciro Gomes, nome forte do PDT. Seus vídeos na internet chamam atenção tanto pela sua habilidade com as palavras, como pela truculência com que trata certos assuntos e pessoas, atitude que sem dúvidas atrai apoiadores nas redes sociais.
Ciro tenta se apresentar como um homem inteligente e experiente no trato da máquina pública. Vindo de uma família repleta de políticos profissionais, disputou o cargo presidencial em 1998 e 2002, e nessa última oportunidade ficou conhecido por brigar com um ouvinte em uma rádio e responder a um repórter que o lugar de Patrícia Pilar (na época sua esposa) na campanha era ”dormir com ele’‘, e é ai que mora o problema para o ex-prefeito de Fortaleza: sua compulsão por falar sem rodeios e seu gênio explosivo e irritadiço podem comprometer sua pretensão ao Palácio do Planalto. O sociólogo Celso Rocha de Barros até mesmo escreveu um texto na Folha de SP, em tom de ironia, questionando a sanidade mental do Ferreira Gomes. Não precisa ser analista comportamental para notar características autoritárias na personalidade de Ciro Gomes.
É claro que tudo isso pode mudar durante a campanha. O próprio Lula virou ”paz e amor” antes de ser o sindicalista radical de outras épocas — um bom trabalho de assessoramento pode ajudar bastante qualquer candidato. Além disso, o voto eleitoral muitas vezes é feito por eliminação, ou seja, para impedir Jair Bolsonaro ou algum tucano qualquer, o eleitorado de centro-esquerda pode muito bem votar em Ciro, sem contar com a possibilidade do PT apoiar a sua candidatura.
A questão principal nesse momento é saber quem vai ocupar o posto reformista e moderado que se esforce para combater as ideias extremas e obtusas que estão na moda atualmente no país, apostando em propostas esclarecidas e positivas para o bem-estar nacional.