CENA UM – As reuniões entre Antonio Palocci e João Roberto Marinho em 2002 tratavam dos mais delicados assuntos de interesse do povo brasileiro. Evidentemente, nenhum dos dois tinha um mandato conferido pela população, mas isso não os impediu de falar das questões decisivas para o futuro do país. É bastante provável que um dos donos da Globo tivesse autorização pelo menos dos irmãos, senão de parte de um grupo de grandes empresas preocupadas com o destino do Brasil. Afinal, tudo indicava, Lula deveria ser eleito presidente.
Não há atas nem registros maiores do que se debateu nesses encontros, mas eles não foram divulgados por um longo tempo, não houve vazamentos. Saiu apenas a “Carta ao povo brasileiro”, em que Lula se comprometia basicamente em manter na economia o mesmo padrão de Fernando Henrique Cardoso nos assuntos de dinheiro (câmbio, juros, orçamento). Só anos depois, Antonio Palocci divulga e explica em livro a participação direta do dono da Globo e defende a ideia da “Carta”.
O fato é que com a “Carta”, a Globo ficou à vontade para cobrir a campanha de Lula, sem buscar destrui-lo, dizendo melhor, sem fazer-lhe oposição frontal. Lula, por seu lado, comprometia-se a manter o “status quo” e não fazer mudanças estruturais.
Vitorioso, Lula vai ao Jornal Nacional e anuncia o programa “Fome Zero”. A Globo não gostou, mas engoliu, ficando tacitamente entendido que Lula poderia fazer alguns “projetos”, desde que nada mudasse. E assim foi.
CENA DOIS – Mas a natureza e o estilo da Globo não combinaram com a natureza e o estilo de alguns líderes do PT. Aí nasce o “Mensalão”. Um ‘projeto’ político-jurídico na medida para derrubar Lula. E Lula deveria ter caído quando Duda Mendonça (o marqueteiro da campanha) disse ao vivo pra todo o Brasil que havia recebido uma nota preta do PT numa conta de paraíso fiscal.
Lula não caiu por várias razões. Escolha: porque aceitou sacrificar José Dirceu e José Genoíno? Porque o vice José Alencar foi rejeitado pelo sistema bancário? Porque Fernando Henrique Cardoso teria dito “melhor que derrubá-lo é deixá-lo sangrar em praça pública e derrotá-lo facilmente na eleição”? Ou porque José Dirceu ameaçou “botar um milhão de pessoas na rua, afinal Lula não é Collor”?
CENA TRÊS – Com Dilma fica mais fácil, claro. Aécio deveria ter vencido (quem imaginaria que ele perderia por milhões de votos em Minas Gerais?). Ainda não tinha uma crise econômica quando ela venceu a eleição em fins de 2014. Mas isso se providencia. E 2015 foi perfeito neste ponto, com a luxuosa colaboração dela própria. O Vice era agora um incapaz, portanto, perfeito para a ocasião. E não havia mais Dirceus e Genoínos, mas Mercadantes e Cardosos. Projeto ‘Petrolão’.
CENA QUATRO – No poder, o PMDB junta-se ao PSDB e sob a proteção da Globo montam uma agenda devastadora. Mas há uma ponta solta, como dizem nos filmes da Máfia: é Lula. Se Lula não for destruído, tudo pode voltar ao que era antes, havendo eleições normais em 2018.
CENA CINCO – Lula versus Globo. Agora sem Palocci e sem “Carta”. Já começou. Ao vivo, a cores, sem ensaios, sem replay, todos os dias, em todos os horários, no rádio, no jornal e na TV, com a participação de economistas e jornalistas. Não perca.
Você está convidado para assistir, não para participar.