Franklin Roosevelt ajudou na criação da Petrobrás

Era 15 de agosto de 1954, quando o Brasil vivia uma crise civil e militar que estava levando o país à beira de uma guerra civil. Getúlio Vargas vinha sofrendo uma oposição sistemática do Parlamento, dos militares e da imprensa, esta última, através do seu maior porta-voz, Carlos Lacerda, jornalista e político ligado a União Democrática Nacional (UDN) que tinha total liberdade para falar nos canais de televisão da época, todos controlados por Assis Chateaubriand. O general Mozart Dornelles, subchefe do gabinete militar de Vargas e amigo de Chateaubriand decide perguntar para o rei da mídia por que permitia que seus canais fossem usados para transmitir ódio contra o presidente, num momento tão delicado para o país. A resposta foi surpreendente:
“Olha Mozart, eu adoro o presidente Getúlio Vargas. Eu cobri como jornalista todos os acontecimentos da Revolução de 30, então tenho a maior admiração por ele. Tem um jeito de a gente resolver essa coisa toda: é só ele desistir da Petrobras que eu tiro as televisões do Carlos Lacerda e dos outros inimigos dele e entrego as televisões para quem ele quiser, para fazer a defesa do governo dele e atacar os adversários”. Antes de falar com Vargas, Mozart confidenciou o pedido de barganha ao então Ministro da Justiça Tancredo Neves, de quem escutou: “o presidente morre, mas não desiste da Petrobras”. E foi exatamente o que aconteceu, cerca de uma semana depois, em 24 de agosto, Getúlio Vargas estava morto, e a Petrobras continuou.
A história foi relembrada pelo jornalista e escritor José Augusto Ribeiro, em entrevista ao programa Na sala de visitas com Luis Nassif, onde ele falou um pouco sobre suas mais recentes obras: “Getúlio Vargas – A saga da Petrobrás” e “Getúlio Vargas – A morte com um sorriso”, disponíveis como eBook na Amazon. Os livros são desdobramentos de outra série, publicada em 2001, em três volumes chamada “A Era Vargas”.
“Em 2014, quando estava começando a Lava Jato, fui reler esse material todo e me dei conta de como naquele momento, no início da operação, era importante a gente conhecer os antecedentes da Petrobras, que não era uma empresa qualquer. A Petrobras está tão ligada à nossa história que nos impactamos com ela”, defende o jornalista.
No novo trabalho, Augusto Ribeiro chama atenção para outro fato interessante na história da criação da Petrobras que, em 2014, era a nona maior petroleira do mundo: ele acredita que uma das forças que determinaram a criação da estatal brasileira foi o próprio governo dos Estados Unidos, para fazer frente ao poder das chamadas Sete Irmãs, cartel formado pelas transnacionais, na maioria Anglo-Americanas, dentre elas a Standard Oil of New Jersey (Esso e hoje ExxonMobil), Shell e Texaco.
“A inspiração inicial da Petrobras veio de um presidente dos Estados Unidos, o Franklin Roosevelt, porque na época da Primeira Guerra Mundial as empresas americanas, a futura Esso, a Texaco etc, estavam direta e indiretamente ajudando muito ao Hitler. Houve um inquérito parlamentar no Senado, uma CPI, presidida por um futuro presidente dos Estados Unidos, Harry Truman, e um jornalista foi perguntar a ele como ele avaliava o comportamento das empresas americanas de petróleo, ele disse: ‘ah, não tem problema nenhum, é traição, é traição’”, conta.
José Augusto Ribeiro também destaca que, ao contrário do que ficou para a história, de que apesar de ser nacionalista Getúlio Vargas defendeu um sistema misto que permitisse contar com o capital de investidores privados na Petrobras, o ex-presidente já previa a execução do monopólio estatal, desde o início.
“O Getúlio estava muito preocupado porque o governo brasileiro já tinha encomendado equipamentos americanos para futuras refinarias de petróleo, e ele achava que se mandasse o projeto com a cláusula do monopólio os americanos deixariam de entregar o tal equipamento para as refinarias que era essencial para o projeto da Petrobras”, explica.
Trecho de texto de Lilian Milena no Jornal GGN.

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SEGUNDA OPINIÃO é um espaço aberto à análise política criado em 2012. Nossa matéria prima é a opinião política. Nosso objetivo é contribuir para uma sociedade mais livre e mais mais justa. Nosso público alvo é o cidadão que busca manter uma consciência crítica. Nossos colaboradores são intelectuais, executivos e profissionais liberais formadores de opinião.

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