Escuridão total, sem estrelas, por Gilvan Mendes

Com a crise política e econômica que o Brasil vem enfrentando, analistas políticos e uma parcela significativa da sociedade civil tentam constantemente vislumbrar saídas para a nossa situação atual. Nas redes sociais, a linha progressista insiste no ”Fora Temer” e pouco tempo atrás apostou suas fichas em uma eleição geral, que agora pelo que parece perdeu o fôlego. Conservadores e liberais dizem as vezes que o governo Temer não é tão tenebroso assim, até faz alguns avanços importantes, mas geralmente apostam em um nome forte de centro-direita para se eleger presidente no próximo ano. Um lado mais obscuro da internet e da sociedade brasileira, pede golpe militar e a construção de uma ditadura nos mesmos moldes de 1964, não raro quem concorda com essa perspectiva apoia Jair Bolsonaro. Nessa gama de possíveis soluções não se observa algo crucial: a força interna do governo Temer. Ninguém conhece apoiadores de Temer nas ruas ebairros desse imenso país, mas nas casas de votação o atual governo é fortíssimo. Assim, até o momento, tudo se encaminha para que o presidente peemedebista conclua seu mandato e uma nova gestão venha de fato com as eleições presidenciais de 2018.  

 Essa opção está longe de ser perfeita. Não temos grandes nomes com projetos nacionais e democráticos que possam assumir o governo federal e fazer mudanças significativas. Os tucanos levaram um golpe forte com as investigações que correram contra Aécio Neves. Assim, João Dória se configura para ser o representante do partido, porém, sua retórica liberal que agrada muito setores da classe média egrupos empresariais tem pouco apelo com a população mais pobre que necessita de programas de inclusão social. Ciro Gomes, consegue muito bem ganhar apoio de setores de centro-esquerda, mas sua capacidade de oratória não esconde seu perfil autoritário, que no passado não se envergonhou em se unir com grupos coronelistas e oligárquicos do Ceará. Marina Silva, até poderia ser uma opção que ganha campo com a derrocada dos outros adversários, mas seu perfil reservado que não aparece com respostas para o eleitor nas grandes dificuldades que o país atravessa, faz com que sua imagem seja de uma candidata que só aparece para pedir voto. O PT aposta novamente em Lula, entretanto, o mesmo possui uma rejeição grande em determinados setores da sociedade civil. A operação lava-jato e os discursos da oposição conseguiram colar no petista o rótulo de corrupto. Além disso, Lula claramente não possui um projeto de governo que nos faça acreditar que ele é um líder melhor do que foi antes. Ao invés disso, vende uma ideia quase metafísica de que basta ele chegar na presidência que tudo vai se resolver facilmente, já que ele fez um mandato popular no passado.

Ainda temos, infelizmente, Jair Bolsonaro. O deputado consegue apoio de jovens com suas frases grosseiras e recheadas de clichês. No seu ponto de vista, o comunismo e a esquerda em geral devem ser combatidos, e a família tradicional defendida. Homossexuais e imigrantes devem ser deixados de lado. Na economia mistura um nacionalismo tacanho com uma certa retórica liberal. Para ele o mundo é dividido entre os ”bons” que estão do lado dele e os ”malvados” esquerdistas. Sem dúvidas, é um sujeito autoritário, preconceituoso, contraditórioanacrônico. Não pode de forma alguma ser presidente do Brasil, se quisermos preservar e melhorar nosso sistema político.    

 Portanto, vivemos em uma ”Escuridão total, sem estrelas”, como diz o título do livro de contos do escritor americano Stephen King. A democracia brasileira vive um momento único, que é fruto da nova cidadania criada pelas redes sociais, que vem expandindo a participação política de grupos antes indiferentes às questões partidárias e ideológicas da sociedade. Até agora, essa renovação vinda de baixo não chegou nos pilares fundamentais dos espaços de resoluções de questões nacionais, com nomes e projetos comprometidos com as reformas sociais necessárias. Essa ”democratização da democracia” precisa chegar logo, se quisermos observar estrelas no céu escuro da política brasileira.

Gilvan Mendes Ferreira

Cientista social graduado pelo Universidade Estadual do Ceará-UECE, com interesse nas áreas de Teoria Política , Democracia e Partidos Políticos.

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Gilvan Mendes Ferreira

Cientista social graduado pelo Universidade Estadual do Ceará-UECE, com interesse nas áreas de Teoria Política , Democracia e Partidos Políticos.