Nos últimos anos, juntamente com a gravidade da crise política, veio a percepção de que carecemos da figura de um estadista que encarne um novo projeto para o país. A filosofia política já legou muitos estudos sobre o tema. Maquiavel afirmava que o estadista seria um tipo de artista, percorrendo um caminho tenso, indo além das questões partidárias e vaidades pessoais. Acima de tudo, deveria ter uma visão ampliada, pensando no bem estar das próximas gerações. Sim, temos muitos líderes políticos e dezenas de partidos, mas, ao visualizar o cenário atual, cabe perguntar: qual deles encarnaria democraticamente esse ideal? Vamos à lista dos que estão em destaque.
Michel Temer está longe de representar esse papel. Seu governo não demonstra planejamento, muito menos ligação com a sociedade. Conduz reformas estruturais sem dialogar. O ajuste econômico, que tanto defende, será vivenciado principalmente pela população mais vulnerável. Um político tradicional, muito próximo daquilo que o PMDB sempre ofereceu ao Brasil. Marina Silva, três vezes candidata à presidência, pouco se manifesta sobre a conjuntura política. Quando resolve falar, perde-se ao negar o que já tinha dito. Além de carisma, falta-lhe consistência. Aécio Neves, segundo colocado na disputa de 2014, com grande potencial para liderar uma oposição responsável, acabou tendo o nome envolvido em escândalos de corrupção, discursos odiosos e ausência de propostas, tornando-se um coadjuvante na política brasileira.
Poderia aqui citar outras lideranças nacionais, tais como: Ciro Gomes, José Serra, Geraldo Alckmin e, obviamente, o ex-presidente Lula. Todos demonstrando intenção de se candidatar em 2018. Dos quatro citados, Lula se destaca nas pesquisas de opinião, guarda o imaginário de um tempo da bonança, inclusão social e desenvolvimentismo. Contudo, não estamos em 2010, quando o PIB alcançou crescimento de 7,5% e sua popularidade encontrava-se no auge. O Brasil apresenta outra dinâmica e demandas. Lula (ou qualquer outra liderança) deverá apresentar um projeto político claro para esta nova geração. O discurso de sempre (estatista ou liberal) será rechaçado.
Mesmo concordando com Sérgio Buarque de Holanda acerca da manutenção do personalismo na cultura nacional, acredito que a política tradicional e seus representantes já não encontram a mesma acolhida. A sociedade exige mais transparência e participação na esfera pública. O desafio maior: dialogar com a nova classe média e populações da periferia. Esses grupos mudaram radicalmente. A questão principal: compreender a direção e intensidade dessa transformação. É o primeiro passo para a construção coletiva de um novo projeto político. O grande risco: essas lideranças e seus respectivos partidos não despertarem do sono letárgico e surgirem aventureiros galvanizando simpatias e, não duvidem, chegando ao posto máximo da República.
Voltarei ao tema no próximo artigo!