Eleição de Trump: treino é treino, jogo é jogo, por Luis Eduardo Barros

As ondas de choque começaram a se propagar na madrugada de quarta feira. Contrariando as pesquisas e o bom senso generalizado pela mídia, a apuração das eleições norte-americanas mostravam ser Donaldo Trump o 45º. Presidente da maior economia do mundo. A rejeição à Hillary Clinton se mostrou maior que a perplexidade generalizada por sua rejeição ainda maior e pela arrogante e radical plataforma eleitoral. O fato é que outros fatores predominaram na decisão dos norte-americanos. Hillary conseguiu mais votos no total, mas a votação de Trump espalhou-se por mais estados e angariou mais votos no colégio eleitoral, que é o critério eleitoral nos Estados Unidos da América. Devemos procurar um meio de fugirmos para Marte, como gracejou o ex-Presidente uruguaio ou a coisa toda pode não ser tão ruim como se imagina?

O primeiro passo é compreendermos que não houve surpresas efetivas na eleição. É fato que a grande maioria da classe média norte-americana – os chamados WASP na sigla em inglês (Brancos, Anglo Saxões e Protestantes) – há muito tempo vinham sentindo-se abandonados por seus governantes, mais preocupados com a globalização e com a Pax Americana ao redor do mundo do que com seus empregos. Percebiam que estava custando muito caro comprar barato os produtos industriais da China ou de onde fosse, já que haviam perdido os empregos industriais do passado e a boa vida de então. O americano médio estava empobrecendo, enquanto lá fora os chineses enriqueciam com consumo deles e, internamente, os emigrantes e seus filhos ocupavam os empregos disponíveis, que não eram tão bons como os do passado para eles, mas eram bem melhores que os emigrantes tinham antes. Insatisfação econômica é um terreno fértil para a germinação de soluções exóticas, como a História é pródiga ao explicar os Hitler e outros ditadores ou líderes populares. Quando surgiu um candidato americano, branco, milionário, desvinculado dos políticos tradicionais e com promessas de reconstruir a maior nação do mundo, esse apelo tornou-se invencível.

Somando-se a isso, temos que lembrar que a Flórida foi um palco decisivo da eleição de Trump. A grande população de origem cubana, que não perdoava a usurpação dos Castro, inevitavelmente teria dificuldades de aceitar uma candidatura apoiada pelos mesmos que perdoaram os Castro e reataram as relações com a ilha caribenha. Por essas e outras, os norte-americanos estavam preferindo um novo, mesmo desconhecido e perigoso do que os mesmos de quem já conheciam os defeitos, principalmente sabiam que não estavam preocupados com o classe média norte-americano típico. Eles podiam ser ótimos para os norte-americanos de cor, mulheres, latinos etc. e para a população mundial, mas não melhoravam a vida deles. Por que não substituí-los por outros?

Para mim isso parece lógico, por mais que fosse improvável. Por outro lado, também não acho que o mundo se acabou. O discurso conciliatório de Trump já demonstrou que ele é capaz de proporcionar surpresas positivas. Pode decretar a falência da economia norte-americana, como já o fez na economia pessoal três vezes. Mas, também pode se cercar de pessoas competentes e dar um novo direcionamento à economia norte-americana, resgatando os seus valores clássicos. Isso, provavelmente, passará por um maior fechamento da economia norte-americana, onde os maiores prejudicados deverão ser os chineses.

Podemos ficar preocupados se nossos vistos para os EUA serão renovados ou como ficarão os brasileiros na América. Penso, no entanto, que devemos nos preparar por que os chineses precisarão de mercados para seus produtos e têm recursos para financiar os compradores. Como diz a filosofia popular; quem morre de véspera é peru. Diz também que treino é treino e jogo é jogo. O treino teve muitas surpresas, mas agora precisamos ver como será o jogo.

Luís Eduardo Fontenelle Barros

Economista e consultor empresarial.

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