Trecho de artigo do jornalista Mario Sergio Conti, na Folha de S Paulo:
“… O fracasso nacional em construir uma república democrática pôs o povo à mercê da elite lúmpen. Dólar a dólar, a burguesia bandida cevou a nata de terno e toga que zela por ela em tribunas e tribunais. Classe e casta montaram um consórcio disfuncional, de ar mafioso. E a arte ficou muda.
A presidente cavou a própria cova e caiu em meio a uma algazarra de manipulações. Um títere dos dominantes foi imposto aos dominados. Enquanto o príncipe dos empreiteiros ia preso, o político mais popular era caçado. Vieram a recessão, o desemprego. A arte continuou em silêncio.
O silêncio prevalece porque foi funda a autodesmoralização dos líderes derrotados. Não houve isso em 1964. Apesar do golpe, músicas, romances e filmes críticos foram feitos nas fuças da ditadura. Até o tempo fechar de vez, no fim de 1968. Agora, os artistas estão quietos.
A resposta da arte ficou mais lenta porque o tempo agora é de desagregação. Ela não se restringe à política. A desindustrialização, a financeirização e a desregulamentação assolaram a economia. E a arte virou, cada vez mais, negócio.
Com ritmos variáveis, a putrefação se dá em toda a América Latina, que não teve lugar estabelecido no neoliberalismo em crise. A singularidade nacional está na aguda desigualdade: cinco indivíduos têm patrimônio igual ao de metade do povo brasileiro. É a barbárie.”