Democracia e representação, por Gilvan Mendes

Com a derrocada das ditaduras de esquerda e de direita no século XX, a palavra democracia virou o clichê favorito de quem debate assuntos políticos. Afinal, o único modo de organização política que razoavelmente ostenta o apoio da maioria da população no Ocidente é o louvado sistema democrático, onde teoricamente todos elegem seus representantes de uma formacoerente e racionalizada. Sem dúvidas, nós cidadãos de um país complexo como o Brasil, sabemos que na prática não é assim,oligarquias, desigualdades sociais, esquemas de corrupção tiram o brilho da democracia brasileira. Nas redes sociais, a frase ”isso não me representa” é regularmente utilizada para repudiar um ato ou opinião de algum político. A apatia do eleitorado frente aos candidatos aos cargos públicos é marcante, e votar no ”menos pior” poderá se tornar regra futuramente. Essa situação nos convida a repensar o modo como lidamos com a representação política nos dias de hoje. 

Jean-Jacques Rousseau, pensador suíço do século XVIII, acreditava que a ideia de representação era uma falsificação. Nenhum ser humano pode representar outro, se isso acontecer a própria representação deixa de existir. Essa crítica ainda permanecebastante convincente nos dias de hoje para militantes anarquistas. Karl Marx ia mais longe: considerava que a democracia não passava de uma organização política favorável a burguesia. As reflexões desses grandes autores nos dias de hoje devem seranalisadas com cuidado, é claro que o sistema democrático não é perfeito, mas como organizar de forma menos autoritáriapossível uma sociedade de massa? Impossível ter certeza, entretanto, liberdade de imprensa, liberdade de manifestação, direito ao voto, autonomia de organização política e escolha de presidente, prefeito, governador, deputado e senador de uma maneira razoavelmente livre e justa, encanta os olhos dos cidadãos no  ‘mundo ocidental”. Ruim com democracia? Pior sem ela!  

Porém, é difícil negar que o nosso sistema democrático não precise de reformas. Negros, mulheres, homossexuais, pobres e outras minorias sociais, nunca foram incluídos de forma decente no nosso modelo de representação, a consequência disso é vermos homens brancos, religiosos e heterossexuais dominando a política, e muitas vezes decidindo sobre a vida dessasminorias. É necessário democratizar a democracia brasileira. Para isso acontecer não basta só uma reforma política, mas um ”contrato social” renovado que possa materializar os interesses da sociedade civil, além de trazer transparência e modernidade para as esferas do poder que decidem sobre o futuro do país.

Na época que estamos vivendo, do ódio e da histeria, fica complicado acreditar que  tal projeto se concretize. Estamos reféns de uma classe política anacrônica e da intolerância das redes sociais.

Gilvan Mendes Ferreira

Cientista social graduado pelo Universidade Estadual do Ceará-UECE, com interesse nas áreas de Teoria Política , Democracia e Partidos Políticos.

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Gilvan Mendes Ferreira

Cientista social graduado pelo Universidade Estadual do Ceará-UECE, com interesse nas áreas de Teoria Política , Democracia e Partidos Políticos.