Debaixo do nariz do Banco Central, por Capablanca

Desde os governos de Lula, o Brasil se tornou soberano para escolher sua política econômica, como nunca acontecera antes. E tudo indica que esta é uma conquista permanente, pois foi alcançada de forma sólida, gradual e segura. Em outras palavras: o governo conseguiu em dois mandatos eliminar a vulnerabilidade externa, ou seja, eliminar a dependência secular que o Brasil tinha dos banqueiros estrangeiros. Todos lembram que o governo FHC quebrou o país pelo menos duas vezes e mandava seus ministros a Nova Iorque negociar com o comitê de bancos credores e recebia aqui a missão do Fundo Monetário Internacional, ambos com autoridade para impor condições – é praxe o credor impor condições e obediência ao devedor.

Os governos populares quebraram esse paradigma. O Brasil tem hoje reservas em dólares superiores a 360 bilhões. A dívida externa total é inferior a este valor, assim o Brasil está na lista dos países que aplicam dinheiro, ao invés de pedir dinheiro, como o fazem a China e o Japão, por exemplo.

A conquista não foi casual e este é o seu valor principal. O Brasil não tem problemas de balança comercial. O Brasil exporta bem mais do que importa – com isso acumula dólares. Os juros da dívida caíram e o velho e enorme déficit em transações correntes com o mundo ficou em tamanho normal e tem sido quase cem por cento coberto com investimentos eternos diretos – aquele dinheiro que vem para ficar, e não só para especular.

É estranho que o governo Lula seja acusado regular e repetidamente de destruir o Brasil, de fragilizar sua economia, de comprometer suas finanças. Pelo contrário, a verdade é que Lula pegou as contas do país em frangalhos e arrumou tudo. Ou quase tudo.

O objetivo deste texto não é defender ninguém. Mas apenas justificar a estranheza de ver as taxas do dólar dispararem. O que justifica isso? O Banco Central ignora o que está acontecendo? Faz algum sentido a taxa de câmbio do Brasil variar em dez dias o mesmo tanto da variação do câmbio na quebrada e falida Argentina? Há algum banco grande especulando contra a moeda e contra a estabilidade?

O Banco Central do Brasil tem como função, entre outras, monopolizar e centralizar as operações de câmbio, podendo, inclusive, estabelecer normas e limites de qualquer tipo. Sua autoridade nunca foi questionada. Tem, assim, as ferramentas e a autoridade para evitar ou punir especuladores. E nenhum deles lhes passa despercebido, pois as transações costumam ter o Banco Central numa das pontas.

Que tal um pouquinho de transparência e prestação de contas, Banco Central? O que está acontecendo debaixo de seu nariz?

Capablanca

Ernesto Luís “Capablanca”, ou simplesmente “Capablanca” (homenagem ao jogador de xadrez) nascido em 1955, desde jovem dedica-se a trabalhar em ONGs com atuação em projetos sociais nas periferias de grandes cidades; não tem formação superior, diz que conhece metade do Brasil e o “que importa” na América do Sul, é colaborador regular de jornais comunitários. Declara-se um progressista,mas decepcionou-se com as experiências políticas e diz que atua na internet de várias formas.

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Ernesto Luís “Capablanca”, ou simplesmente “Capablanca” (homenagem ao jogador de xadrez) nascido em 1955, desde jovem dedica-se a trabalhar em ONGs com atuação em projetos sociais nas periferias de grandes cidades; não tem formação superior, diz que conhece metade do Brasil e o “que importa” na América do Sul, é colaborador regular de jornais comunitários. Declara-se um progressista,mas decepcionou-se com as experiências políticas e diz que atua na internet de várias formas.