É mais difícil enganar quem já tem cabelos embranquecidos pelo tempo de permanência e caminhada nas longas estradas da vida. A gente ouve as notícias e os comentários políticos e econômicos e basta ligar o desconfiômetro para perceber o quanto são inverídicos e dirigidos a objetivos inconfessáveis.
É como essa conversa mole da recuperação da economia, que mais parece o efeito fundo do poço – a economia bate no fundo do poço e sobe um pouco, claro. Ou como a reforma trabalhista que vai criar muitos empregos – quando na verdade o trabalhador vai precisar de três ou quatro trabalhos intermitentes para substituir o velho e bom emprego de carteira assinada. Ou como aquela lei sem pé nem cabeça do Teto dos Gastos que dizia que ia resolver a questão fiscal do país por vinte anos, uma burrice sem tamanho, coisa de radicais.
Entretanto, pior do que as mentiras ditas e repetidas à exaustão, são os longos e profundos silêncios. Como a queda da inflação. Se não fossem os preços irresponsavelmente administrados pelo governo, a inflação estaria em zero, e o país teria uma conquista mínima positiva para essa crise inflada. Uma oportunidade histórica está praticamente perdida.
E com ela também está praticamente perdida a oportunidade do Brasil economizar umas duas centenas de bilhões de reais nos próximos anos. Sim, o Brasil, se a inflação não fosse inflada pelo próprio governo, iria para zero. E os juros da dívida pública, que custam quase quinhentos bilhões de reais por ano, poderiam cair quase pela metade.
E se a devastação que se faz na empresa brasileira de petróleo pudesse ter algum ganho com a abertura para as petroleiras estrangeiras, essa possibilidade também está praticamente perdida. O Congresso está aprovando favor fiscal de quase um trilhão de reais para as gigantes do óleo negro.
E assim, de mentira em mentira, de conversa mole em conversa mole, de mentira em mentira, de silêncio em silêncio, o país e seu povo vão perdendo oportunidades valiosas.