A questão da identidade sexual: de Einer Wegener à Lili Elbe, por Rafaela Lemos

Se falar sobre transexualidade ainda é um tópico delicado nos dias de hoje, imagine isso séculos atrás. O filme “A Garota Dinamarquesa” é baseada no diário de Lili Elbe, o primeiro homem a submeter-se a uma cirurgia de mudança de sexo. O filme retrata com excelência o drama vivido no início do século XX, quando Einer descobre-se como Lili, afirmando sua identificação com o sexo oposto.

Durante sua busca por um tratamento médico, cirúrgico e hormonal, muitos especialistas diagnosticavam Lili como um sujeito esquizofrênico. Freud afirma que aquilo que constitui a masculinidade ou a feminilidade é uma característica desconhecida que foge do alcance da anatomia; tendo isto em vista, o menino pode assumir a identidade feminina e a menina a identidade masculina.

Ao refletir sobre a construção da identidade sexual, percebe-se que na sociedade contemporânea o tema transexualidade se destaca por tratar-se de uma grande discussão sobre um sujeito que se manifesta identificado com o sexo oposto, ou seja, o corpo indica corresponder ao sexo masculino ou feminino, o sujeito confirma identificar-se ou pertencer ao sexo oposto.

Na cena em que Einer vai a um prostíbulo para observar os trejeitos de uma garota e começa a imitá-la, podemos enxergar com clareza o impasse vivido por Einer em aceitar esta transição. Einer fala em um momento do filme: “Este não é meu corpo”, deixando claro o seu interesse em ser reconhecido como mulher.

Em 1930, Lili entrou para a história ao se submeter à primeira cirurgia de redesignação de gênero. Na visão médica, corpo e gênero devem ser correspondentes, o homem deve ser coerente com a masculinidade, da mesma forma a mulher, ser coerente com a feminilidade. Diante disso, a Psicanálise investiga a questão do feminino como forma de colocar em dúvida essa convicção médica, onde o corpo precisa ser coerente com a sua identidade sexual.

Lili, representada por Eddie Redmayne, afirma o desejo de pertencer ao outro sexo. Ele se vê anatomicamente de uma forma e afirma, com convicção, que não se identifica com seu órgão sexual. Para Lili, ela é uma mulher presa em um corpo masculino.

Nos discursos de Lili ela afirma a certeza de ser mulher. Lili mantêm essa convicção quando fala para Gerda, sua esposa: “Penso como Lili, sonho seus sonhos, ela sempre esteve lá.”.

Afinal, o que assegura que o homem é um homem e uma mulher é uma mulher? Se socialmente uma mulher é aquela que ama um homem, escuta-se através desta concepção, alguns elementos da problemática do transexual, ou seja, o transexual masculino será aquele que ama um homem. Diante disso, quando Lili afirma que “O fato é que acredito que sou mulher” retorno à fala já citada acima “Quem nos faz mulher é o homem.”.

Rafaela Lemos

Psicologa formada pela UNIFOR e Pós Graduada em Psicodiagnóstico. Especialista em Gestão de Pessoas. Diretora executiva da Consultoria Vivaz Soluções em RH. Contao: [email protected]

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Rafaela Lemos

Psicologa formada pela UNIFOR e Pós Graduada em Psicodiagnóstico. Especialista em Gestão de Pessoas. Diretora executiva da Consultoria Vivaz Soluções em RH. Contao: [email protected]