Corrida para longe da caderneta de poupança, por Ricardo Coimbra

Cenário cada vez mais incerto quanto à capacidade do governo de controlar a inflação, que já chega à casa dos dois dígitos, gera crescentes elevações nas taxas de juros, e vem propiciando uma diversidade de opções ao poupador brasileiro, aquele que, com muito sacrifício, consegue gastar menos do que recebe.

O que se observa é que a caderneta de poupança tem perdido ao longo do ano a atratividade frente a outros investimentos, em face de uma rentabilidade baixa, mesmo considerando a isenção de Imposto de Renda. Seu rendimento, quando a taxa de juros está acima de 8,5% ao ano, está limitado em 6,17% ao ano mais a variação da Taxa Referencial (TR), como ocorre hoje.

Com a taxa Selic em 14,25%, os fundos de renda fixa na maior parte das situações superam em muito os rendimentos da poupança. As aplicações vão desde os Certificados de Depósitos Bancários (CDB), aos fundos DI, como as Letras de Crédito Imobiliário (LCI) e Letras de Crédito do Agronegócio (LCA) para investidores mais sofisticados.  Parte dos mais conservadores tem migrado para o Tesouro Direto, e em alguns casos já está tendo uma rentabilidade real de 6,82% a.a. Somente em outubro os fundos de renda fixa apresentaram uma rentabilidade bruta de 1,11% contra uma rentabilidade de 0,68% da caderneta de poupança. Já no acumulado de 12 meses, os fundos de renda fixa tiveram uma rentabilidade bruta de 12,77% contra uma rentabilidade de 7,86% da poupança.

A saída de recursos da poupança acontece em momento de crise econômica e recessão, menor crescimento da renda e com alta de impostos, do desemprego, da inflação e do endividamento das famílias. No que se refere aos impostos, estes elevaram sobre: empréstimos, importados, carros, cosméticos, cerveja, vinhos, destilados, bancos, receitas financeiras das empresas, taxas de fiscalização de serviços públicos, gasolina e exportações de manufaturados, entre outros. Foram também criadas limitações de benefícios sociais, como seguro-desemprego, auxílio-doença, abono salarial e pensão por morte, além de aumento da tributação sobre a folha de pagamento. Quanto ao desemprego, este não para de aumentar, já ultrapassando a casa dos 8%. E o endividamento das famílias acima de um patamar de 46%.

Fatores como esses têm feito que os saques da poupança superassem os depósitos em outubro, pelo décimo mês seguido, e no acumulado do ano a poupança já perdeu R$ 57,05 bilhões. A queda do volume de recursos aplicado na caderneta de poupança também está impactando os financiamentos imobiliários, visto ser a principal fonte de financiamento de imóveis do país, por meio do Sistema Brasileiro de Poupança e Empréstimo (SBPE).

Ricardo Coimbra

Ricardo Coimbra: Mestre em Economia CAEN/UFC, Professor UNI7/Wyden UniFanor UECE/UniFametro, Vice-presidente Apimec/NE, Conselheiro Corecon/CE.

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Ricardo Coimbra

Ricardo Coimbra: Mestre em Economia CAEN/UFC, Professor UNI7/Wyden UniFanor UECE/UniFametro, Vice-presidente Apimec/NE, Conselheiro Corecon/CE.