Brasil vive clima de Guerra Fria ideológica, por Gilvan Mendes

Com o final da Segunda Guerra mundial e a vitória dos chamados ”países livres” contra o eixo , duas grandes potências  políticas assumiram o controle de boa parte do mundo: EUA e URSS. A disputa ficou conhecida como Guerra Fria , já que mesmo com grandes tensões nenhum conflito direto entre as nações ocorreu de fato , e moldou a política global no século XX. A longa marcha da história humana só possuía dois caminhos diferenciados , o capitalismo norte-americano de um lado e o socialismo soviético de outro , nada de caminho alternativo. Felizmente , o tempo passou  o muro de Berlim caiu,  União Soviética deixou de existir , e o mundo bipolar  ganhou novos contornos.  

Entretanto , no Brasil contemporâneo ,  essa disputa  ainda não acabou,  simbolicamente permanece  mais viva do que nunca. Basta uma passada rápida pelas redes sociais que detectamos fácil o tom maniqueísta e reducionista dos debates. Até mesmo pessoas inteligentes e reconhecidas academicamente entram nessa linha , no auge das investigações da  operação Lava-Jato  ,  a filósofa e professora Marilena Chauí argumentou que o juiz  Sérgio Moro era um capacho do governo dos EUA encarregado de entregar o País  de mãos beijadas para o Tio Sam. Várias críticas podem e devem  ser feitas à forma como o magistrado paranaense agiu nas investigações , mas não devemos acreditar em teorias da conspiração. 

     

Quem ousa defender reformas sociais e pautas progressistas na internet é constantemente chamado de ”comunista” ou ”petista” e visto como ”doente” por apoiadores e fãs de  Jair Bolsonaro , como se o comunismo e o petismo não fossem opções políticas legitimas  que todo cidadão que vive em uma república  tivesse o direito de ter. O mais alarmante é que a turma do deputado costuma desprezar a  própria democracia e com isso o valor da liberdade , louvando os ”bons tempos” da ditadura militar, que, na visão deles, ”salvou” o Brasil de um regime ditatorial de esquerda.   

Essa  batalha ideológica  que vivenciamos nos dias de hoje não terá vencedores e perdedores, apenas discursos inflamados vindos de fundamentalistas políticos. Ninguém quer ver seu ”time”  em desvantagem , por isso a razão e o bom senso são rejeitados. Quando perdemos a capacidade de ouvir e entender o outro , que é o que vem acontecendo , estamos condenados ao autoritarismo e à intolerância. Assim a democracia perde o seu sentido de existência e seu impacto pedagógico na sociedade civil. 

 

Não conseguiremos deixar um futuro melhor para os nossos filhos e netos trilhando esse caminho. 

Gilvan Mendes Ferreira

Cientista social graduado pelo Universidade Estadual do Ceará-UECE, com interesse nas áreas de Teoria Política , Democracia e Partidos Políticos.

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Gilvan Mendes Ferreira

Cientista social graduado pelo Universidade Estadual do Ceará-UECE, com interesse nas áreas de Teoria Política , Democracia e Partidos Políticos.