Ascensão e queda do PMDB, por Gilvan Mendes

Uma das explicações para  Michel Temer continuar na presidência  mesmo com várias denúncias de ilegalidades e popularidade baixa , é a força do seu partido que consegue garantir maioria nas votações e arquitetar manobras que beneficiam o presidente e os seus aliados. De fato , o PMDB é uma sigla tradicional e com grande influência no jogo político nacional. Esse status ,  foi construído por meio de uma trajetória tão longa quanto ambivalente. Durante o regime militar , a atuação do MDB (que  com a volta  do multipartidarismo foi obrigado aadicionar  o ”P” na frente foi primordial  para a passagem da ditadura para a democracia , principalmente com as posições de Ulysses Guimarães  , que garantiu  o inicio da retomada doEstado de direito. A Constituição de 88  foi criada graças aos esforços do ”doutor diretas”  e de outros parlamentares do partido. Pode ser difícil de acreditar nos dias de hoje , mas o PMDB muito contribuiu para a formação da atual república  brasileira.  

Porém , mesmo com o início programático e propositivo , a sigla se transformou em um balcão de negócios privados  nada nobres. Desistindo de concorrer diretamente nas eleiçõespresidenciais , optou por ganhar prefeituras e governos estaduais com o intuito de continuar dominando politicamente a gestão pública. Infelizmente , esse caminho levou a uma ligação íntima com setores oligárquicos e patrimonialistas  das grandes e pequenas  cidades. A corrupção virou marca registrada do peemedebismo , junto com o cinismo  corporativismo de figuras como Eduardo Cunha , Renan Calheiros , Romero Jucá. Uma mácula enorme para um grupo político  que surgiu engajado com a transformação social do Brasil.  

Sem dúvida , o PMDB absorveu  as caraterísticas negativas do presidencialismo de coalizão. Se por um lado este garante a governabilidade , por outro abre caminhos para trocas ilegaisde favores parlamentares. Só basta lembrar o fato do então ministro da educação Renato Janine Ribeiro ,  ter sido trocado por Aloizio Mercadante , somente , para atender  uma demanda peemedebista. Além disso , a sigla  abandonou qualquer esboço de programa partidário amplo e ideológico , optando pelo jogo político rasteiro que visa  sempre um lugar na máquina pública , para fazer desta um balcão de cargos sem compromisso  com interesse coletivo.      

 

Se quiser honrar seu passado republicano  e construir uma verdadeira ”ponte para o futuro”,  o partido precisa fazer uma  revolução interna ,  deixando de lado seu ranço  patrimonialista eoligárquico ,  optando  por fazer política de uma forma racional e democrática , expulsando da agremiação  indivíduos envolvidos com corrupção e outras ilegalidades. Difícil de acreditar? 

Gilvan Mendes Ferreira

Cientista social graduado pelo Universidade Estadual do Ceará-UECE, com interesse nas áreas de Teoria Política , Democracia e Partidos Políticos.

Mais do autor

Gilvan Mendes Ferreira

Cientista social graduado pelo Universidade Estadual do Ceará-UECE, com interesse nas áreas de Teoria Política , Democracia e Partidos Políticos.