Algo aquém do nome, por Luciano Moreira (Xykolu)

A pele é tudo quanto queremos que os outros vejam de nós, por baixo dela nem nós próprios conseguimos saber quem somos”. [José Saramago, em Todos os nomes, pág. 157].

O significado da pele e a importância do nome valem pelo que recobrem, encapsulam, protegem. A pele e o nome formam parte da essência humana que pode ser desvelada. Pele é sensibilidade. Nome é identidade.” [Francisco Luciano Gonçalves Moreira, em UMA QUESTÃO DE NOME. UMA QUESTÃO DE DATA/31.3 (My book of the face – O meu livro do atrevimento, pág. 115)].

A que ponto chegou a classe política brasileira! A que nível desceram os lídimos representantes do povo desta tão pródiga Nação, tão bafejada pela mãe-Natureza, e que tanto teimam em arruiná-la, empobrecê-la! [Desde Cabral – não o jornalista carioca Sérgio, o da Dama do anel, mas o navegador português Pedro, o das caravelas]. Em que nicho de negociatas se permitiram aboletar-se e refestelar-se os engravatados donos do poder, os senhores da oratória verborrágica, os desavergonhados caras de pau (E haja óleo de peroba!!!)! Para a rapinagem sem precedentes, não apenas venderam a própria alma ao tinhoso, mas compactuaram com esquemas marginais que os submeteram ao extremo do achincalhe de codinomes, de alcunhas geralmente depreciativas, e os expuseram à execração da massa plebeia em tempos de fácil acesso às redes sociais.

E, mesmo assim, tudo continua como antes. Os excelentíssimos senhores, de rechonchudos patrimônios pessoais, que deveriam usar o poder que lhes fora circunstancialmente concedido pela massa ignara, pela patuleia, para promover o bem-estar de todos, desfilam lépidos e fagueiros, mefistofelicamente eu diria, pelos corredores das casas congressuais, enlameados de variegadas ilicitudes, alcançadas por tipificações múltiplas. Mantêm-se, pois, encastelados em seus postos de comando ou em seus gabinetes, como se nada tivesse acontecido, como se nada lhes dissesse respeito. E isso é repulsivo. Causa-me nojo, asco. Dá-me vontade de vomitar.

Pois bem. Vamos ao lado caricato do fato. Risível, pois. Na delação premiada de um ex-condecorado odebrechtiano, lá estão o Caju e o Caranguejo – eis uma boa sugestão para nome de dupla sertaneja! –; o Santo, o Missa e o Misericórdia – Deus nos livre e guarde desse tipo de ecumenismo inglório!!! –; o Gremista e o Botafogo – será que estavam na Arena no último jogo do Brasileirão?! –; o Velhinho e o Decrépito – que lembranças os dois rememoram?! Ou ficam só no “Fomos muito bons nisso…” –; o Boca Mole e o Gripado – dá-me nojo só em imaginar as consequências de um espirro, ante a profusão da reuma e da abrangência da área de alcance… –; o Índio e o Babel – de que linguagem eles se apropriam para traçar seus planos maquiavélicos?! –; o Las Vegas, o Ferrari, o Helicóptero e o Campari – que tipo de preocupação têm eles com os problemas que nos afligem, nós, os pamonhas!

Há outros. De identidades já reveladas. Há outros. De identidades por revelar.

O que não fazem para se manter sob o sol?!

Lembro-me, agora, de um parceiro de andanças em feiras e supermercados, para quem “ninguém escapa… nem o Padre Z!”. Que apelido lhe deram, hein?

Lembro-me, também, de pessoas que marcaram a minha adolescência e que bem poderiam ter composto uma das versões do meu querido Putiú Atlético Clube, time do bairro de minha cidade natal onde ambientei toda a base de minha formação humana: Baladeira (elasticidade); Louro do Mestre de linha, Tiné, Coquinho e Timbuca; Atum, Codó e Bibi; Sabará, Corró e Caxangá. E, em meio à torcida, Meu-santo, Tico, Nenen, Popó, Sapo, Tantan, Tiquim, Babá, Dedé do Dinó, Tim da Loura, Guanabara, entre tantos outros. Ah, havia o Pirrita, o Caretinha e o Nego da Delsilha, com quem – nem me perguntem por quê – sempre evitei qualquer tipo de contato.

E, por falar em política e em Baturité, chistosa é a relação oficial dos candidatos à Câmara do município, no último pleito, de que constaram cognomes como Loló, Bambam, Bigode, Coquim, Barão, Cantor, Construtor, Cabeleireira, Joinha, Caneta e Super Maluco, e ainda oferecia ao eleitorado a possibilidade de sufragar pessoas que juntavam ao nome de guerra (Zé, Chico, Mundim, Toinho…) o elemento característico, ou seja, dos Candeias, da Sucam, do Açudinho, do Zé Vilar, do Mondego, do Sindicato, do Sinicato (ops!), da Bomboniere, do Corrente, das Flores, do Guto, da Ambulância, do Abraão, do Joca, da Agrovila, do Beco, da Borracharia, do Balneário, do Trânsito, do Choró e do Putiú. Todos, obviamente, imbuídos dos melhores propósitos.

O que não se faz por um lugarzinho ao sol?!

Ah, antes que esqueça, eu mesmo criei o Xykolu – composição estilizada de Chico e Luciano. Ou seja, algo além do nome. Não me recordo de ter tido algum apelido. Ou seja, algo aquém do nome.

Francisco Luciano Gonçalves Moreira (Xykolu)

Graduado em Letras, ex-professor, servidor público federal aposentado.

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Graduado em Letras, ex-professor, servidor público federal aposentado.