A pior forma de se afastar dos atuais problemas enfrentados pela sociedade é fingir que eles não existem. Há receitas infalíveis para se construir um estado de dormência: não ter tempo para refletir sobre o que se lê ou o que se vê e buscar incessantemente o prazer por meio do consumismo, por exemplo. É para este estado de animação suspensa que parte da sociedade parece empurrar a outra parte. No atual processo, a inoculação desta anestesia social deve ser feita da melhor forma: máximo de eficácia, menor tempo e efeito duradouro. Qual melhor campo para este tipo de ação do que o sistema educacional?
Poderiam ser inúmeros exemplos, acompanhados de estatísticas, de investigação científica ou empírica com foco nos processos educacionais da pré-escola aos do ensino básico ou médio, mas, por razões de praticidade talvez a melhor opção seja mesmo o ensino superior, aquele que é responsável, no curto prazo, por atender a oferta de trabalhadores qualificados para a sociedade que queremos, ou não queremos.
Não se trata de um jogo de palavras, mas de realidades acompanhadas, in loco, ao cruzar o batente de boa parte dos cursos superiores instalados nas principais cidades brasileiras. Neles, alunos continuam reféns de um sistema que sempre supervalorizou as notas, lembrando o condicionamento clássico de Pavlov e seu cãozinho. Depois da pergunta: “Professor, vale nota?”, vem a espera pelo estímulo (campainha). Se a resposta for sim, todos correm a fazer o exercício. Se não, é abandonado. A cena lembra também o velho pensamento denotador da presença de coisas como egoísmo, imediatismo e ambição desordenada por resultados, sem falar na propensão à corrupção: “O que eu ganho com isso?” Estas características, aliás, são alicerces sobre a qual constrói-se a sociedade pós-moderna, chamada também de a Era da Liquidez, pelo sociólogo polonês Zygmunt Bauman.
Mas, o que há de errado com os critérios que apontavam para a busca do saber e da melhoria como seres humanos, antes de qualquer coisa? Não é para isso que se entra na universidade, ou seja, para formar um saber superior? Não foi para isso que estas instituições seculares foram criadas, na passagem da Idade Média para Moderna, no intuito de construir um homem melhor acabado intelectualmente e moralmente? E não são de pessoas assim que a nossa atual civilização mais carece? Porém, quando se quer vender vagas, não há uma linha sequer nos anúncios publicitários que remetam a valores mais elevados. A ordem é prometer diploma, bons salários e ascensão profissional. Tudo isto é maravilhoso, é óbvio e deve ser buscado. Uma sociedade mais humana e moral, porém, carece de mais.